domingo, 28 de fevereiro de 2010

De cerveja à tequila. Ela e eu. E a lua se fazendo torta. Aquele dia a lua estava torta e não era efeito do álcool. Teria sido uma noite perfeita se não fosse esse detalhe. Alguma coisa sempre tem que se fazer de torto, estrangular os fatos ou estragar o sorriso. Mas que graça teria uma perfeição?

Na ponte não tem proteção. Tem só o perigo olhando pra mim. E meus lábios sentem o gosto. E meus olhos brilham. Do medo à coragem. Da vida à morte. Do voo à queda.
Garçom, traz outra cerveja importada que hoje eu só saio daqui carregada, com os lábios borrados de batom vermelho e o salto quebrado.
Garçom, aquela menina ali me olha e tem vazio nos seus olhos. Não conta que eu escrevi o nome dela no espelho do banheiro. Não conta que essa música é horrível pra trilha dessa noite. Não conta que meu vocabulário está errado. Conta só que, que, que eu não sei porque vim parar aqui. E não sei pra onde ir. E não sei da onde vim. Só sei dessa cerveja aqui que não desce mais. Traz um vinho.


"As noites, passava-as numa anestesiada inconsciência." London

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010


Eu quero a paz. Não a paz de quem tem o vazio.
Quero a paz de quem tem o sorriso e sabe que ele vai durar.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Então desfalecia dentro de si. Era como se a vida estivesse lhe testando. Dava-lhe escolhas para segundos depois arrancar, como se arranca doce de uma criança hipoglicêmica.
Seu corpo, pouco a pouco, perdia as forças. E da mente já não se podia tirar alguma conclusão.
Ela estava sofrendo, não por não saber o que fazer, mas por ter que fazer alguma coisa com a certeza. E certeza ela nunca tinha.

Colorindo sóis de domingos sem gosto.
Revivendo sentimentos enterrados no passado.
Oh, a liberdade havia evaporado.
Quando a liberdade se vai sobra a tristeza. E o vazio.

A ponte que cai hoje não caiu.
Ela espera por mim.
Tic-tac. Tic-tac.
Explode enquanto é dia.
Porque de noite eu quero morrer em paz.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Tinha solidão no mar, saudade, satisfação e paz. Tudo era uma mistura constante do que surge na vida e você pode afogar os problemas como pode se afogar nos problemas. É uma questão de saber lidar com.
Um barco passava lentamente no horizonte. Talvez fosse um navio. O mar nunca esteve tão azul. E meus olhos fixos no horizonte, mirando palavras, sentimentos, caminhos, dúvidas. É difícil falar em amor quando os olhos veem saudade. Saudade do tamanho da extensão daquele mar. E, pra mim, amor está ligado com saudade.
Não consegui separar os fatos dos motivos. Não consegui separar a menina da capa de chuva amarela da mulher do guarda-chuva vermelho. Tenho medo de perder as duas. E perdendo as duas o nada não seria mais uma espécie de tudo.

As palavras não podem mais fugir de mim. Não dá. Fico sem consciente. Fico sem contexto. Fico quase sem vida.

"...num equilíbrio perfeito, acontecia que se ele não tinha as palavras, tinha o silêncio." Lispector.

Mas o silêncio jamais chega a altura das palavras.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010


Verdade é o nome dado para um fato visto de diferentes ângulos. Sim, a verdade nunca é uma só.
É tão mais fácil mentir e inventar histórias onde você mesmo acaba vivendo dentro delas e se perde da realidade e da relação que possui com as pessoas.
Conheço ela há tanto tempo que não lembro de mim no tempo em que nos conhecemos. A capa da minha revista preferida, o vinho daqueles domingos sórdidos, a pizza da janta quase fracassada. Difícil falar em amizade quando essa, também, tem umas faces a mais do que deveria. Mas eu falo, falo mesmo sem saber que do outro lado ela vai absorver essas palavras.
Não gosto quando ela mente pra mim. Ou quando se faz de vítima para os outros sem deixar eu saber. Porque ela consegue enganar os outros mas a mim, não.
Falo em amor, sim. Falo em empatia, sim. Falo em tolerância, sim.
Você constrói um prédio e 'se constrói' junto com ele. E o ama, cuida e inevitavelmente vive dele. Você não pode simplesmente deixá-lo desabar. Tenho medo de deixá-la desabar. Tenho medo desse egoísmo que tem sido fundamental. Tenho medo das frases curtas seguidas de ponto que eu envio para ela. Tenho medo dessa falta de envolvimento que me atinge há uns dois anos.
Sei que de mim, sem ela, não resta mais do que uma xícara de arrogância. E inversamente também.
Mas falta. Faltam os presentes de aniversário, as conversas da madrugada e até cumplicidade. Falta uma vírgula que talvez nunca venha a existir. E talvez um ponto a substitua, sem pedir a minha permissão.

Se essa construção ruir o arco-íris muda de cor e os olhos pretos se apagam.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Pintei uma menina no meu bloco branco há muito esquecido. Choveu, ela ganhou vida e pulou pra fora do papel. Disse:
-Querida, traga-me um café. Agora.
Petulante.
Peguei sua mão de palito, arrastei-a para a janela e a atirei na chuva.
Ela se foi.

Ora...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010


Do pôr do sol eu não fico mais somente com as cores. Além da minha menina morena tenho, agora, uma menina tão branca que até seu cabelo chega a ser dessa cor. E seus braços são tão finos que não a abracei por medo de quebrar seus ossos. Ela tem três anos e olhos grandes. Olhos que me encararam por uns dez minutos. Talvez tenha sido o meu cabelo vermelho. Talvez tenha sido as minhas bochechas rosadas.
Seus olhos azuis são tão sinceros e transparentes que eu quase caí pra dentro deles. Foi questão de um milésimo. Ela tem toda uma necessidade de se sentir compreendida e de compreender. Não foi o calor nem a satisfação com que as pessoas a olhavam. Ela é de tudo a peça que sempre falta, o ponto que escapa, a interrogação que se transforma aos poucos em vírgula. Ela é a saudade doce e delicada que em hipótese alguma pode chegar a doer. Ela é a tristeza medida em anos, talvez décadas, mesmo tendo três anos.
Sentou na sua cadeira rosa, alta e quente. Olhou meus olhos já incertos. Não sorriu. Apenas ficou com as mãos firmes na cadeira, sem falar, sem sorrir, sem chorar, sem se mover. E o dia foi ficando colorido pra trazer a noite. E ela ali, e eu ali. Ela sabendo o que estava fazendo. E eu? Bem, eu tentava entender por que de um dia quente eu tive que ganhar justo uma menina.

Ela é a melancolia disfarçada de estabilidade. A certeza de uma ruptura do destino cruel. O vento de verão batendo no rosto e levando pra longe os medos. Ela é a minha paz.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Do motivo sobrou a vaga sensação de uma perda.
Como um sonho deliberadamente essencial que fora perdido.
O 'que' que eu tinha antes evaporou e não deixou reticências no lugar para a possibilidade de uma continuação.
O coral dos grilos parece uma afronta.
Encaro a lentidão da noite e descubro caminhos de mim nunca antes percorridos.
A insanidade, sem querer, trouxe-me de volta à realidade.
E os meus sentidos se fizeram vagos.
E os caminhos desconhecidos se fizeram celas.
Depois de seis horas de puro êxtase tentando descobrir uma saída pro abismo, descubro não estar presa de fato num abismo, mas presa dentro de mim.

E me afogo na tenacidade líquida.

E morro.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Tudo o que eu precisava era de chuva. E ela veio no meio do sol e trouxe o cheiro de terra e fez passar a dor. Trouxe algum sentido bem maior que toda essa confusão.

Cai no meu rosto e lava minha alma, lava porque já não sei o que esperar do próximo segundo. E lava também meus olhos e meus sonhos. Lava meu peito porque já cansei das esperas angustiantes e das frases pela metade. Deixa eu chorar minhas lágrimas de tristeza e sorrir meus sorrisos de desilusões. Lava, lava minha boca e mata minha sede e, por favor, traz o pote de ouro do final do arco-íris. Mas tudo o que eu quero é que dentro dele tenha alguma certeza. Alguma certeza de que o amanhã vai ser meu ainda, sem rachaduras ou cortes. Apenas meu. Não importa a cor que ele tenha.

...quero voltar a acreditar.