domingo, 30 de maio de 2010

Eram dois, dois perfeitos corações que batiam no mesmo ritmo, dois pares de olhos com o mesmo brilho, dois pares de mãos quentes que sempre estavam unidas.
Eram dois mas era como se fossem um. E pensavam em eternidade e não acreditavam em fim.
Um dia os corações pararam de bater, ele levantou do sofá e foi embora sem olhar pra trás. Tudo foi desmoronando enquanto ele caminhava em direção oposta a do sol , sem coração, sem olhos e sem mãos. Sem vida. Ela se tornou uma boneca de pano sem cabelo. Ele deixou de se tornar "alguma coisa". A lua caiu.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Parecia não querer estar ali, naquela hora, com aquelas pessoas. Não precisava, de fato, mas estava. Os olhos maquiados suavemente, a roupa moderna, a bota confortável, dentes brancos e retos. Ela não parecia o tipo de pessoal intelectual, mas havia algo em seus olhos e no seu jeito que me fazia sonhar. E quando ela começou a falar, um sorriso disfarçado, eu percebi o quanto tinha em comum com aquela mulher de trinta anos. O desejo de mudar a rotina também queimava dentro dela. Aquela mente já tinha pensado em suicídio, em assassinato e em abismos. O gosto pelo estranho e pelo sórdido também era algo que lhe pertencia. A diferença é que nos seus dezessete anos ela não sabia o que seria. Eu acho que sei, mas não posso escrever isso com tanta certeza.
Olhou-me nos trinta primeiros minutos em que ficamos naquela sala. Comecei a pensar que ela sabia tudo o que se passava comigo. Falou em decepção, também. O que ela sabe sobre decepção? O que alguém sabe sobre isso? Fechei os olhos e apenas escutei. Na minha mente os meus sonhos tomando cores, formas e sons. "Um dia eu vou ser tão boa escritora que vou ter total liberdade de tirar meu vinho da bolsa antes de começar a falar em uma faculdade." Foi aí que ela interrompeu meus sonhos e me trouxe pra realidade: "um bom jornalista tem que gostar de gente, caso não gostar, tem que trocar de profissão." Pensei em trocar, mas não sei onde mais eu poderia me adaptar. Logo concluí que o que eu queria era escrever, apenas. Fechei os olhos e continuei sonhando. Talvez algum dia eu voltasse a encontrá-la, quando fosse tão boa quanto ela, ou melhor. Talvez algum dia eu lhe contasse os meus segredos. Talvez algum dia ela me contasse que aqueles sorrisos eram falsos e que tudo o que ela queria era ter estado em casa com um litro de vodca e uns chocolates caros.

Não sei o que vem depois. Não sei se depois do abismo o céu é mais azul. Não sei se algum dia eu simplesmente vou acordar, pensar que não é isso e mudar tudo de mim. Não sei, mas o que eu posso fazer além de me atirar daqui e tentar voar?

domingo, 16 de maio de 2010

Teve um outro "ela" essa semana. E esse "ela" me deixou tão feliz que até doeu. O cabelo curto e preto como o das outras quatro. Casaco até o joelho e um olhar fixo que pendia na parede da lanchonete. Encarou-me, não sorriu, desviou e continuou com o olhar na parede. Vinte ou vinte e um anos. Talvez vinte e nove. Rosto branco como a neve, lábios com traços finos e bochechas avermelhadas. Invento mil nomes diferentes e pra cada um há um apelido. Agora é minha, também. Joana, Carmem, Dolores, Beatriz, Júlia, Ana, Caroline ou Gabriela? Prefiro chamá-la de Ar. É que ando precisando respirar nos últimos tempos e a presença dela pode me saciar. Mas tudo o que eu consegui foi vê-la ir embora, em direção ao estacionamento, e sumir na noite. Talvez ela se chame Delírio ou Ilusão. E enquanto todo o meu mundo desmorona ela deve estar tomando um café e lendo Lispector. E enquanto eu preciso dela ela não precisa de ninguém.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Eu precisava estar à beira do abismo. O desejo de perigo sempre se sobressaiu e, ao lado dele, o medo. Estava em constante tentação. Estava, também, com o medo constante do que essa tentação podia me causar. E eu nunca sabia se voava ou não, se corria ou sentava no chão e esperava. E eu nunca sabia se os meus sentimentos tinham um fundo de realidade ou se era apenas a minha mente querendo criar. Sim, porque minha mente tem esse vício e eu não posso controlar, já se tornou inconsciente. Esse inconsciente há muito vem destruindo o meu consciente e tudo o que eu posso fazer é pegar um espelho e procurar os erros em mim.

...pegar um espelho e procurar os erros em mim.
...pegar um espelho.
...pegar.

Quando é que vou poder sair de dentro de mim com a certeza de não estar deixando nada pra trás ou destruindo algo do futuro? Quando é que eu vou ter uma certeza, uma certeza qualquer?


"Há um pássaro azul no meu coração que quer sair, mas eu sou demasiado esperto, só o deixo sair à noite, por vezes quando todos estão a dormir(...)" Charles Bukowski.