domingo, 31 de agosto de 2008

Adoro o último dia do mês. Sei lá, ele é fim. É difícil ver algum fim verdadeiro durante a vida. Mas, eles ainda se repetem, uma vez por ano, trazendo lembranças e prejuízos inestimáveis. Acho que não quero mais ser fim. Acho que não quero mais ser nada, também. Ser 'qualquer coisa' saiu da minha lista de desejos. Acho que quero ser vento.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Ela sempre entrava pela porta da frente, caminhava na ponta dos pés até chegar ao copo rosa. Depois, cheirava-o cuidadosamente para apreciar o cheiro de vinho estragado e sentava-se na mesa. Meus livros eram como brinquedos em suas mãos e meus olhos se enchiam de fúria quando ela os pegava. Eu não entendia o motivo de suas visitas. Aquele cabelo opaco me dava náuseas. Aquele seu ar alegre e indiferente fazia com que eu me sentisse deslocada. Mas ali era a minha casa, afinal de contas, e eu mal a conhecia. Ela não tinha motivos para entrar na minha vida. Ela não tinha nome, palavras, ações compreensivas. Eu não tinha mais eu. Eu me afogava na fumaça do seu cigarro, não conseguia me locomover para tirá-lo de sua boca e explicar furiosamente o quanto detesto que fumem perto de mim. Todas as vontades e sentimentos explodiam no meu interior. Minhas pernas e braços não me obedeciam. Meu corpo colava ao chão. Apenas minha cabeça se inclinava acompanhando seus movimentos. De onde surgira tal ser? Que substância podia conter na sua mente? Por que não ficavam rastros quando ela partia?

Na manhã seguinte sobrava apenas a lembrança do seu ser sendo levado pelo vento como uma folha de papel. Mas eu não sabia que ela voltava todas as tardes. Eu dormia e esquecia da sua presença. Eu acordava e sentia vazio. Por vezes eu ficava sem o meu outro lado. Mas eu nunca quis admitir que ela era realmente o meu outro lado.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Não quero falar de palavras. É muito exaustivo e eu coloco o meu humor em risco. Tudo fica em risco. Não ando querendo arriscar. Me contorço só de saber que em duas horas eu tenho que levantar daqui e passar as próximas duas andando por aí pensando no que fiz hoje, no que eu vou fazer amanhã, como minha vida seria se eu não estivesse aqui, como eu seria se minha mente estivesse no corpo de outra pessoa, etc. Pensar me desgasta emocionalmente e fisicamente. Pensar era a única coisa que eu fazia há um tempo e agora só gera um mal estar.
Tudo é tão mais simples quando a complexidade se afasta e eu posso enfim descansar de mim mesma. As pessoas se enganam quando dizem que descansaram durante a noite. A mente trabalha muito mais e na manhã seguinte deixa a sensação de ter participado de uma maratona.
Eu acordo calma, cansada e chata, mas isso muda em quinze minutos. Quando não muda é culpa da chuva, dos bom-dias que eu detesto ou na maior parte do tempo das próprias pessoas mesquinhas e hipócritas -ando usando esses termos ultimamente - que estão na minha companhia.
Queria que minha máquina de escrever voltasse a funcionar só para eu poder ficar contando de um até dez e depois reiniciar.

Que direto tudo isso. Mas, dane-se.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Fiquei surpresa no dia primeiro quando todas as fases da minha vida resolveram se encontrar, dentro de uma casa, com temporal lá fora, uma vela acesa em cima da mesa e risadas que se estenderam até a meia-noite. Foi bonito. Foi realmente bonito ver as ruas escuras, o céu claro e poder encontrar um certo tipo de preenchimento nos olhares. Faltou só você, mas você está nessa parte de mim que não diminui, só acrescenta. Foram as minhas amizades passadas encontrando afinidade com as futuras. Foi parte da minha infantilidade se misturando com a maturidade. Parte do que eu esqueci na oitava série dando sequência ao terceiro ano.
Agora eu posso ver que os traços que se produzem lá no horizonte não são das ondas escuras do mar; é o dia nascendo.