quarta-feira, 29 de dezembro de 2010


23/10/2012

Frases subentendidas são ignoradas pelo silêncio
e mergulho nos ruídos incessantes da noite.
O cansaço, que antes pesava, agora foi embora
e eu percorro a madrugada com passos cautelosos.
Sempre tem alguém a tentar me matar,
seja com palavras, olhares ou punhais.

Não sei o que fazer desse saber
e isso se dá justamente de tanto que eu sei.
Eu deveria dormir umas quatro horas,
mas o vento balança o coqueiro ao lado de casa
e os cachorros latem incessantemente.
Muita coisa é apagada na noite.

Espero que lembre dessa última frase, Lolita.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Eu costumava caminhar, sorrindo, na beirada do penhasco. Agora chove o dia todo e ele está escorregadio. Sorrio mesmo assim.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Ganhou uma daquelas caixas que se vê nos filmes americanos que as pessoas usam quando saem do trabalho e colocam os seus pertences. Mas ela não vai sair do trabalho. Longe disso. Pegou os seus livros impressos, aqueles que guardam todas as frases escritas ao longo de três anos e que ninguém conhece, e os colocou nela. É como uma casa para as palavras. É como um refúgio, um lugar seguro, um abrigo que nunca vai se desmanchar, mesmo sendo feito de papelão.

Ainda precisa da bebida, mas vai ficando tonta quando o efeito passa e a ressaca domina o dia. Ainda precisa de gente, mesmo que prefira o silêncio do seu próprio quarto e as paredes riscadas com as fotos que estão caindo. Ainda precisa ir pro mar e gritar alto que o que pertence a ela não tem nome e, entretanto, é tão grande e tão lindo que pode salvar qualquer um... de si mesmo.
Viveu três domingos seguidos: o que antecedeu o Natal, o Natal e hoje. É que não se sabe diferenciar a sexta e o sábado quando essas datas se aproximam. E aí o que se faz é misturar tudo em uma garrafa de cerveja e beber. Bebeu tanto que está saltitante. Mas, quando se deitar na cama quente, vai adormecer sem nem se dar conta e não acordar. Talvez nunca mais.

"Nada de enterro, nem lágrimas, nem ilusões, nem paraíso ou inferno." Bukowski

terça-feira, 21 de dezembro de 2010


Ontem eu a vi. O rosto quase sem maquilagem, visto de perto, revelava a sua idade há tanto tempo escondida. Está na casa dos 60. Fiquei pensando no tempo que eu pegava o jornal na sexta e abria direto na página que havia a sua coluna, jornal este que, por ironia, hoje trabalho. Era estranho ler alguma coisa de alguém vivo e gostar. Sempre achei que devia haver essa distância da morte pras coisas não se estragarem. E estava certa. Mandei um e-mail pra ela e ela me respondeu com seus poemas.

Oh, Dolores, eu apenas queria a sua resposta dirigida a mim, como pessoa. Agora o seu rosto sorridente que focava qualquer coisa, menos a câmera, se perdeu. As roupas largas e de tons escuros podem refletir o seu luto, mas não te consagram como uma fada.
Teve esse tempo aí, eu tinha uns 15 anos. Mas você tem que entender que eu comecei a ler Bukowski e de longe você era quase uma cópia da Lispector. Fui te esquecendo. E, junto com o seu rosto, parei de ler as suas colunas. Talvez eu tenha cansado das suas palavras repetidas. Canso rápido de repetições. O seu disco parou de tocar, minha querida. E tudo bem que você faz parte da Academia Brasileira de Letras. Bukowski é meu herói e abominava a maior parte destas futilidades.
Engraçado ver a sua coluna sendo diagramada no jornal. Mais engraçado que isso é pegar as agendas passadas e folhear as suas colunas sublinhadas com marcador de texto amarelo. Fico pensando se, no passado, você foi uma Lolita. Nome tem. Mas o sorriso permanente bloqueia qualquer tipo de conhecimento ou imaginação. Não sei o que vive em você. Não sei quem vive em você, além das palavras.
Você fuma os seus cigarros, bebe a sua cerveja e lê antes de dormir? Talvez se você parasse de sorrir por fora, de vez em quando, também poderia parar de chorar por dentro. Há um pássaro que vive dentro de você? Ele é azul?

p.s: eu ainda gosto de você.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Pizza gelada no café da manhã
Garrafas de vinho quebradas da noite anterior
Estrelas que caíram e se arrastam semi-mortas pelas ruas vazias de uma cidade cinza
Marca de sapatos pretos e lustrosos na calçada suja
Nuvens que não nasceram junto com o sol
Toca-discos que toca silêncio e repete repete por dias
Aviões que cortam o céu mas não podem cortar o silêncio
Rugas na frente do espelho na hora do almoço
E elefantes que hibernam no inverno mas não podem acordar no verão
Xícaras de café trincadas pela força do pensamento
E não era ódio. E não era amor. Não era nada.
Palavras que crescem e explodem e espalham fragmentos pelo quarto
Não são mais do que rabiscos vivos que matam o ar
E vomitam vomitam por mentes e bocas e músicas
E nunca se vão.E nunca ficam definitivamente.
A ponte quebrada sempre grita
E o desejo de voar nunca se afoga no infinito

Todos nós nascemos pra esperar
E não sabemos o que
Mas esperamos

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Era quinta ou sexta à tarde e lá estava ela. Quando a chuva caía e, lentamente, o céu ficava cinza, ela sabia que seria uma longa e agradável noite. Precisava da chuva. Precisava tanto da chuva que às vezes deixava o chuveiro ligado só para escutar o barulho da água caindo no chão. Talvez nem houvesse loucura. Talvez a sua mente fosse mais organizada do que seu armário que, definitivamente, era arrumado. Por cores. Cores estas que não existiam na sua vida, nem precisavam existir.
Palavras caíam no papel na mesma quantidade que água caía em dia de tempestade. Mas ela preferia o silêncio, o silêncio que nem sempre era sinônimo de paz, mas que ainda era silêncio. Imaginava que ele fosse um disco. O som dele, quando o toca-discos começava a funcionar, era suave e oportuno. Ficava o dia todo, de camiseta e de meia, virando e desvirando o disco. O disco chamado Silêncio.
Por que haveria de querer sol e pessoas falando? Por que haveria de querer pessoas? Elas a esmagavam com os olhos e sorriam, no final. Por que haveria de viver em bares ricos e limpos onde o exalava o cheiro de produtos de limpeza? Nesses bares não havia o principal: humanidade.

Ficava em casa. Ela e a solidão. Às vezes recebia a visita da loucura. Outras, a loucura ia acompanhada da lucidez.

"E minhas próprias coisas eram tão más e tristes, como o dia em que nasci. A única diferença era que agora eu podia beber de vez em quando, apesar de nunca ser o suficiente. A bebida era a única coisa que não deixava o homem ficar se sentindo atordoado e inútil o tempo todo." Bukowski


Agora que eu tenho um tempo, vou agradecer e responder o selo que a Marina Sena, do http://palavrasinsolitas.blogspot.com , me deu! Obrigada :D

Os blogs que recebem o selo (e que respondem a questão abaixo, se quiserem, claro):

Dez coisas sobre mim:
1- De carne, como apenas peixe.
2- Faço jornalismo e trabalho com isso.
3- Sou anti-social, mesmo que minha profissão exija sociabilidade.
4- Sou irritante e irritável, ambos facilmente.
5- Queria ter uma vaca. E um elefante.
6- Adoro vinho.
7- As pessoas que são importantes para mim podem ser contadas com os dedos de uma mão, apenas.
8- Minha franja foi vermelha, por 4 anos e meio, e pintei da cor natural há poucos meses.
9- Pensei que algumas pessoas não me reconheceriam mais, mas descobri que reconhecem.
10- Às vezes gosto de excluir pessoas da minha vida. E não vou na lixeira pra restaurar.

p.s: tenho algumas coisas boas também, mas fica pra próxima.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Fechou os olhos e ficou vermelha, como se estivesse fazendo ou pensando alguma coisa errada. A sua rotina era mentir, esconder e planejar o próximo passo daquilo que seria a destruição de alguém. Mas não sabia isso conscientemente.

O sol não nasce pra todos.

sábado, 4 de dezembro de 2010


Dane-se você e a sua coleção de batons, homens e sapatos.