quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Domingo, pé de cachimbo

Tô com sono. Quero dormir. Um mosquito me rodeia. Não é dia, mas também não é noite. Hoje eu disse tchau para mamãe. E para vovó. E para vovô. Engoli as lágrimas, que voltaram pelos olhos enquanto esperava o ônibus. Fazia tempo que eu não chorava. Os começos são bonitos, mas colocam um fim no presente. Pontuamos ele. Pontuamo-nos também. Acho que sim, que eu gostaria desse silencio, mas que também preciso de caos. Chora em ti o meu leite derramado. Tô fazendo um pão pro diabo não amassar. É a vida que proclama. Eu danço. Você me segura. Você faz música com a vida. Eu só continuo dançando e dançando no meio de toda essa gente suada que nem sabe, que nem sabe... 

Tá quase escuro. Matei o mosquito. Preciso vender os móveis, cortar a luz, cancelar o telefone e a internet, fazer as malas, pintar as paredes. A casa vai ficando vazia, vazia, e o coração vai ficando cheio. Preciso dobrar e arrumar tudo. Tudo precisa caber no pobre coração. Tudo precisa me preencher. E de repente não temos mais teto nem pôr do sol nem vinho Santa Helena e tudo escorre com a chuva que não cai. Hoje doeu um pouquinho, só um pouquinho, Uma titica de nada. Marieta me olhou da cama. A gata bocejou quando eu despejei um até mais. Mamãe ficou parada perto do portão com o avental branco. Vovô voltaria pra casa e dormiria no sofá com um palito na boca. Hoje doeu um pouquinho porque seria estranho se não doesse um pouquinho.