quinta-feira, 29 de julho de 2010

Desenho as palavras no papel amarelo guardado no fundo da gaveta. Desenho-as porque não sei mais compor frases e histórias. O vazio consegue engolir tudo e já não há mais nuvens rosas no final do dia. Não há mais meninas e o silêncio ecoa pela casa, o silêncio que antes era substituído por gargalhadas agudas.
As olheiras continuam intactas e o roxo delas não combina com os olhos.
Há ainda o caminho de folhas secas? Há ainda a melodia que tocava em nossas mentes?
O azul marinho do céu, à noite, virou preto. As estrelas nunca estão sozinhas.

As estrelas nunca estão sozinhas.

sábado, 24 de julho de 2010

A saudade voltou, entrou pela porta da frente e largou as malas no quarto. A bagagem é mais do que suficiente para cinco meses. Ocupou meu lugar na mesa da cozinha, bebeu chá com a minha xícara e ainda sorriu.
É sempre muito difícil aceitá-la e a dor é absurda nas primeiras semanas. Mas, logo depois, ela acaba se tornando a minha amiga mais íntima -só que volta e meia arruma uma faca e me ataca pelas costas.
Volta o vazio, o céu cinza, o abismo e as palavras rotineiras. O temporal não lavou nada de mim, hoje. Talvez amanhã.


Espero esse céu brilhar novamente
E que o vinho tenha algum gosto
E que as palavras não se afoguem nas lágrimas
E que os motivos continuem mortos

Eu só tenho vivido na espera de ver essa volta preencher a lacuna em mim.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

As ruas dessa cidade vão se colorindo de cinza e já não se pode saber há quanto tempo a lua morreu. Dos sentimentos e dos pensamentos sobrou a vaga sensação de um afogamento. Os olhos continuam inertes, os cadernos continuam cheios, mas há essa falta que nunca some e nunca se preenche. As pessoas caminham com a cabeça baixa, os ombros pesados, os pés tão gelados que mal podem ser sentidos. Da janela do meu quarto vejo a calçadas molhada e as pegadas na lama que nunca somem.
Não há mais uma linha que separa as incoerências das coerências. Nesse céu, tudo se misturou. Tudo menos as palavras que não nascem e não morrem, brincam eternamente nesse jogo em que só há um jogador que é mau: elas.

terça-feira, 6 de julho de 2010


É uma realidade em que você precisa cair e se machucar para saber que está vivo.