quarta-feira, 30 de julho de 2008

Queria entender o que acordar traz senão uma terrível dor de cabeça. Moldei tudo ao meu redor e esqueci de mim mesma. Tudo bem que isso estava nos meus planos, mas agora se torna confuso quando eu nem mais sei dos meus objetivos pessoais, do meu nada que automaticamente fazia surgir o tudo, o meu tudo que era o transbordamento do nada.
A chuva continua a cair e nas minhas madrugadas é bem difícil eu acordar menos de dez vezes com pensamentos que preencheriam as páginas de um livro em branco. A minha preguiça prevalece nessas horas. Ando precisando de mais um pouco de você, de mais uma dose do seu cheiro, dos seus sorrisos, da sua voz.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Eu tinha os fins na palma da minha mão e eles tentavam escapar pelo meio dos dedos. Relutavam e quando viam que enfim não conseguiriam, tentavam penetrar em mim e me absorver por completa. Então o outono chegava, eu ouvia o vento soprando e meus olhos se prendiam nas folhas que caíam calmamente das árvores. Era o momento do ano que eu mais ansiava: me ver livre de tudo e de todos. Os nomes e frases escritas no banco da praça sumiam quando a chuva caía. Tudo apagava quando vinha a escuridão e renascia das cinzas quando o sol nascia novamente.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Era a mesma cara de sono de quando ele levantava da cama todas as tardes e sorria para ela. Ela sabia que tudo era igual, mas tentava, não sabia de que forma, esconder de si mesma.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Se as pessoas, os sentimentos e os fatos são descartáveis, o que importa? O tempo é tão traiçoeiro que nos traz falsas esperanças. Nas esquinas eu vejo sombras e ruídos. Nada mais se encaixa no que eu construí pra mim. Tudo saiu do meu interior; gotejou, mas saiu. Embaraços e pessoas não possui diferença alguma.
Eu bebia as ilusões como um licor demasiado doce e, depois de me sentir satisfeita, via que tinha algo errado e vomitava tudo. Era um vício, um ciclo que se estabeleceu em mim como prova de que eu era mais uma dessas pessoas com problemas normais sentindo-se diferente. Vivi a fase dos que sonham, quebram a cara com os próprios sonhos e depois preferem apenas a realidade amarga. A minha realidade, no entanto, é mais doce do que o licor e já não sei se depois de todo esse tempo vai trazer a amargura aos lábios.
Se já foram as ilusões, os sonhos e se for a realidade, no que eu vou acreditar depois?

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Sorriu e trouxe parte do mundo de novo. Foi como se tivessem passado semanas e já no outro segundo como se tivessem passado anos. Porque fazia do desiquilíbrio o seu ponto forte diante dos outros, mas na solidão isso tornava-se seu pior inimigo.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

As lembranças eram uma oportunidade de fazer os fatos renascerem das cinzas. Os dias traziam claramente o inevitável em números.
Por mais que passem anos, séculos, esses vestígios vão continuar nas entrelinhas, sendo lembrados e revividos a cada título novo, a cada nova descoberta. O início na verdade nada mais é que um recomeço, e um recomeço é marcado por coisas passadas que viraram fim.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Eu tentava afogar a melancolia num copo d'água, após o almoço. Depois de umas duas horas me dava conta de que não era apenas melancolia, havia uma dose estranha de nostalgia, uma nostalgia de coisas ainda não vividas. Não sei dar nome a isso, mas me parecia o segundo grau de nostalgia, o que tornava-se ainda mais grave. Quando eu enfim desistia e via que um copo d'água não seria o suficiente, saía da janela e ia para o quarto, abria mil livros em cima da cama, juntava todas as minhas anotações e lia, às vezes misturando as palavras, às vezes misturando os sentimentos. Mas a chuva não caía e era inútil fazer toda aquela cena, simplesmente não adiantava consumir horas na janela esperando que o céu viesse até o mim ou o inverso. Os motivos depois de um tempo eram inexpressivos e os pensamentos inexistentes, ou quando tomavam forma, ilícitos. Eu sentia o cheiro das cores e tudo se confundia, tudo deixava de pertencer. Em um instante o quarto era tomado por filmes, fotos e viagens nunca feitas. Eu absorvia tudo aquilo por cinco minutos e era o efeito de uma droga forte e viciante; 'a minha tristeza boa'. Eu me sentia dona de mim, dona da minha memória péssima e, acima de tudo, dona da minha felicidade gerada pela tristeza e das minhas loucuras. Enquanto isso o chá ia esfriando em cima da mesa e o aroma da minha droga ia se dissolvendo nele, criando uma sequência de drogas próprias sem fim. Ah, isso sim era bom...
Não sou mais apta a fases. Essa época já não me retém mais.