terça-feira, 1 de julho de 2008

Eu tentava afogar a melancolia num copo d'água, após o almoço. Depois de umas duas horas me dava conta de que não era apenas melancolia, havia uma dose estranha de nostalgia, uma nostalgia de coisas ainda não vividas. Não sei dar nome a isso, mas me parecia o segundo grau de nostalgia, o que tornava-se ainda mais grave. Quando eu enfim desistia e via que um copo d'água não seria o suficiente, saía da janela e ia para o quarto, abria mil livros em cima da cama, juntava todas as minhas anotações e lia, às vezes misturando as palavras, às vezes misturando os sentimentos. Mas a chuva não caía e era inútil fazer toda aquela cena, simplesmente não adiantava consumir horas na janela esperando que o céu viesse até o mim ou o inverso. Os motivos depois de um tempo eram inexpressivos e os pensamentos inexistentes, ou quando tomavam forma, ilícitos. Eu sentia o cheiro das cores e tudo se confundia, tudo deixava de pertencer. Em um instante o quarto era tomado por filmes, fotos e viagens nunca feitas. Eu absorvia tudo aquilo por cinco minutos e era o efeito de uma droga forte e viciante; 'a minha tristeza boa'. Eu me sentia dona de mim, dona da minha memória péssima e, acima de tudo, dona da minha felicidade gerada pela tristeza e das minhas loucuras. Enquanto isso o chá ia esfriando em cima da mesa e o aroma da minha droga ia se dissolvendo nele, criando uma sequência de drogas próprias sem fim. Ah, isso sim era bom...
Não sou mais apta a fases. Essa época já não me retém mais.