quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Era quinta ou sexta à tarde e lá estava ela. Quando a chuva caía e, lentamente, o céu ficava cinza, ela sabia que seria uma longa e agradável noite. Precisava da chuva. Precisava tanto da chuva que às vezes deixava o chuveiro ligado só para escutar o barulho da água caindo no chão. Talvez nem houvesse loucura. Talvez a sua mente fosse mais organizada do que seu armário que, definitivamente, era arrumado. Por cores. Cores estas que não existiam na sua vida, nem precisavam existir.
Palavras caíam no papel na mesma quantidade que água caía em dia de tempestade. Mas ela preferia o silêncio, o silêncio que nem sempre era sinônimo de paz, mas que ainda era silêncio. Imaginava que ele fosse um disco. O som dele, quando o toca-discos começava a funcionar, era suave e oportuno. Ficava o dia todo, de camiseta e de meia, virando e desvirando o disco. O disco chamado Silêncio.
Por que haveria de querer sol e pessoas falando? Por que haveria de querer pessoas? Elas a esmagavam com os olhos e sorriam, no final. Por que haveria de viver em bares ricos e limpos onde o exalava o cheiro de produtos de limpeza? Nesses bares não havia o principal: humanidade.

Ficava em casa. Ela e a solidão. Às vezes recebia a visita da loucura. Outras, a loucura ia acompanhada da lucidez.

"E minhas próprias coisas eram tão más e tristes, como o dia em que nasci. A única diferença era que agora eu podia beber de vez em quando, apesar de nunca ser o suficiente. A bebida era a única coisa que não deixava o homem ficar se sentindo atordoado e inútil o tempo todo." Bukowski