quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010


Do pôr do sol eu não fico mais somente com as cores. Além da minha menina morena tenho, agora, uma menina tão branca que até seu cabelo chega a ser dessa cor. E seus braços são tão finos que não a abracei por medo de quebrar seus ossos. Ela tem três anos e olhos grandes. Olhos que me encararam por uns dez minutos. Talvez tenha sido o meu cabelo vermelho. Talvez tenha sido as minhas bochechas rosadas.
Seus olhos azuis são tão sinceros e transparentes que eu quase caí pra dentro deles. Foi questão de um milésimo. Ela tem toda uma necessidade de se sentir compreendida e de compreender. Não foi o calor nem a satisfação com que as pessoas a olhavam. Ela é de tudo a peça que sempre falta, o ponto que escapa, a interrogação que se transforma aos poucos em vírgula. Ela é a saudade doce e delicada que em hipótese alguma pode chegar a doer. Ela é a tristeza medida em anos, talvez décadas, mesmo tendo três anos.
Sentou na sua cadeira rosa, alta e quente. Olhou meus olhos já incertos. Não sorriu. Apenas ficou com as mãos firmes na cadeira, sem falar, sem sorrir, sem chorar, sem se mover. E o dia foi ficando colorido pra trazer a noite. E ela ali, e eu ali. Ela sabendo o que estava fazendo. E eu? Bem, eu tentava entender por que de um dia quente eu tive que ganhar justo uma menina.

Ela é a melancolia disfarçada de estabilidade. A certeza de uma ruptura do destino cruel. O vento de verão batendo no rosto e levando pra longe os medos. Ela é a minha paz.