quarta-feira, 8 de abril de 2015

Para Z.

Sinto saudade 
do leite quente com bolachas da vaca
que você preparava de manhã 
e ele me levava na cama 

Sinto saudade 
das igrejas de Caxias 
e de você rezando um terço pela sua filha 
que morava longe 

Sinto saudade 
de olhar com você vinte vitrines por dia 
e ouvir ele dizer, resmungando 
que você demora muito 

Sinto saudade 
das almôndegas de carne 
e do vinho misturado com água 
que você me dava no almoço 

Sinto saudade 
de ir pra escola com você 
e pararmos para ver a tartaruga 
naquela casa velha de madeira 

Sinto saudade 
da ociosidade dos domingos 
e de te ver espiando pela janela 
os vizinhos embriagados 

Sinto saudade 
de preparar chá no meio da tarde 
e te levar em uma bandeja prateada 

Sinto saudade 
de te ver pegar um pedaço de madeira 
para sair atrás da cachorra 
que, evidentemente, te ama 

Sinto saudade 
de todas as suas demoras 
de todos os seus almoços 
de todas as suas reclamações 
e de todos os abraços apertados 

Não sei dizer muitas vezes 
que sinto saudade 
mas sinto saudade 
sinto muita saudade