quinta-feira, 22 de maio de 2014

Barbas Tortas, 22 de maio de 2014.

Querida Lissa,

É muito difícil fazer qualquer coisa com a chuva caindo lá fora. Faz frio também, aqui nessa escrivaninha. Gostaria tanto de beber um chá. Faz dias que sinto essa vontade. Mas não tem chá. Tem apenas café. Não posso beber café agora. Se bebo, fico sem dormir. E não posso me dar ao luxo de ficar uma noite sem dormir, à essa altura. 
Ando exausta, e feliz. Não escrevo. Não pinto. Não leio. Não assisto a filmes. Não saio. Quase não bebo. Mal converso. Penso. Penso muito. Faço. Não me pergunte exatamente o que, mas tenho feito muita coisa, que não essas que citei anteriormente. O tempo é muito pouco, entretanto. Às vezes esqueço quem sou. Ou que dia é. Hoje mesmo pensei que fosse sexta. Saí do trabalho e disse ‘bom final de semana’. Então me disseram que é quinta. Que bom, pensei, se hoje fosse sexta, não ia dar tempo de pensar tudo o que tenho de pensar até o final de semana. Já errei a semana também. E o ano. Já errei de pessoa. Tenho errado muitas coisas. Mas não meço as coisas por erros e acertos, você sabe. 
Nunca sei o que é dia seguinte. Minha vida chega ao final junto com o fim de cada dia. Quando me instigam a pensar o que posso fazer no outro dia, sinto um vazio. E o futuro é exatamente isso: um vazio que poderei preencher da forma que achar melhor. Hoje, não acho nada. Nunca vou achar nada sobre o amanhã. Ele está longe. E às vezes minha própria consciência sobre a realidade fica longe também. 
Fiz um poema voltando do trabalho. Pensei em escrever. Esqueci logo que cheguei. Ando esquecendo muitas coisas também. Mas não me importo de esquecer porque não lembro que esqueci. Isso anula o esquecimento. E por vezes o desespero. Mas não anula o mar, a água. Não anula o inverno que está chegando.

Com amor e saudade,
M. Batata