sábado, 24 de maio de 2014

Carta não enviada XI

Eu acho que sim, que fico pensando. Que você nunca mais vai voltar. Que é uma pena. Bem, não exatamente uma pena. Mas uma pena que vem seguida pela paz. Lamento e festejo. É contraditório, claro que é. Mas eu própria sou contraditória. Minha natureza é assim. Dizem que isso se chama masoquismo. Não acredito que eu goste de sofrer. Acredito que preciso dos dois lados da mesma moeda. 
Talvez você não volte. E é bem provável. Aos poucos, sua ausência alterará a realidade do passado. Aos poucos, acreditarei que você nunca existiu. E, acreditando que você nunca existiu, você passa a não existir mais. Nem no passado. Nem em qualquer tempo de minha vida. Minha única vida. Minha vida sobrevivida. Minha vida que estraçalho e depois pinto com cores vibrantes.
Não faz diferença. A verdade é que já não me importo (e que inclusive já disse uma porção de vezes, anteriormente). Agora consigo me sustentar em mim mesma. Sei que estou aqui. Sinto minha pele, meus dedos doloridos por causa das unhas roídas. Sinto que minhas bochechas estão quentes (e vermelhas, apesar de não as ver), por causa do vinho. Sinto meus olhos secos, minha boca seca. E meu coração continua úmido, o que comprova que a minha essência não se altera com a sua partida. Com a sua inexistência.