quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

No olho do furacão

No dia 27 vai fazer um ano que comecei a dormir mal. Foi o primeiro dia de uma semana de pesadelos. Tem gente que não dorme bem até hoje. Ando por essas ruas que nunca andei e a certeza se dissolve no peito como cera de vela. Depois seca. Tenho certeza de que tem gente que sequer dorme. A cera sufoca o peito. Quase a mente. Deixa os olhos marejados, mas eles nunca despejam para fora qualquer líquido. Tudo volta para dentro de mim. E para dentro estou. Vou recolhendo os cacos que as pessoas colocam para fora. Elas só guardam cacos. Não sinto vontade de gritar. De falar. Sou ouvidos. 

Santa Mar Ia.
Sempre ia. Nunca mais foi.

Ela também tem nome de Santa. O chinelo bate no calcanhar quando anda no piso quente, até o ponto do ônibus. Queria ter netos. Perdeu o único filho. Agora só tem vazio. Dentro da casa e dentro do peito. E os brinquedos guardados em caixas no quarto que nunca foi quarto.

Santa M Ar Ia sem ar. Só dor.