segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Notes from the couch XVI

Eu ando. Acho que é isso: eu ando. Não sei pra onde, mas continuo caminhando. Às vezes, em um impulso que eu não sei de onde sai, extasiada por uma ânsia que faz meu coração pulsar mais forte e encostar na parte da frente do peito, saio correndo pelas ruas quando já é tarde demais para que qualquer outra pessoa esteja nela.
E ando dormindo tarde também. Sem pensar que no outro dia devo estar de pé antes das 8h. Ando não pensando. Ando para o trabalho e depois ando de bicicleta. E ando esperando as ideias enquanto os textos andam brotando na minha mente, a cada pedalada, a cada chuveirada no final da tarde. O trem me faz andar quando estou parada. A vida me empurra quando tento cessar o passo.
Ando sentindo. Acho que sempre andei sentindo. E que o sentir está sempre em movimento. Sinto enquanto ando. É uma coisa que nunca acaba. Nunca posso dizer assim: hoje eu não senti andando. São duas coisas que estão terminantemente ligadas. Até quando durmo eu ando. E sinto.
Normalmente não sigo uma linha reta. Muitas vezes os meus pés se enroscam e eu tropeço. É porque nunca paro de andar. E andar sem pensar é aceitar sem contestar o que acontece. Aceitar que o que acontece só acontece porque devia ter acontecido. E que não havia outra possibilidade. 
Eu ando sem esperanças. Ando de pés descalços. Ando me arriscando em um canto que não ensaiei. Nunca se ensaia o andar. Um dia você acorda e, pronto, sabe andar. Não é algo que deva ser planejado.