terça-feira, 9 de julho de 2013

Peixe e agrião II

Para A.


Andávamos por aquelas ruas, sempre movimentadas, falando alto sem nem ter noção, cuspindo com doçura os nossos problemas. E o mundo, o mundo nos olhava extasiado. Duas meninas caminhando de forma torta, subindo as escadas, os olhos embebidos pela vontade. E nunca soube bem do que, mas era alguma espécie de vontade que nascia e morria diversas vezes no estômago, enquanto a comida era digerida, muitas vezes sem vontade alguma.
Tantas manhãs e tardes e os olhos sorrindo, mesmo quando os lábios não se abriam, mesmo quando não notávamos. Está ali o que éramos, o que ainda somos, e que ficou um pouco pelas ruas, pelas esquinas, pelos intervalos, café com açúcar, chá, bergamota, mas nunca, nunca saiu de nós. Está nos olhos dois meses depois. Um ano depois. Parece que foi ontem. E já é outra cidade, quase outra vida, mas os olhos estão intactos. O sentimento dos olhos, nos olhos, dentro do peito. 
Eu tinha de ti o melhor e te dava o melhor, mesmo sem saber que isso era o nosso ápice da sinceridade. E que haveria outra rua, mas não outras pessoas. Não aquele restaurante com a escada comprida, com a televisão ligada, com pouco espaço estre as mesas. Não as danças na chuva nem as gargalhadas que aliviavam. Porque havia isso entre a gente, isso que não tem nome de tão forte que é. E que nem consigo escrever. Porque se não cabe no peito, tampouco cabe aqui.