sábado, 29 de junho de 2013

Eu te esperei. Bebi a última cerveja, passei batom vermelho e deixei o meu olhar doce. Arranquei da pele a tensão e a angústia. Despi-me dos pensamentos moralistas, das frases curtas, de toda e qualquer palavra. Eu sei que você provavelmente riria se me visse de pijama e de batom. Talvez eu sorrisse também. É tanto que cabe neste quarto. Nem sei. Às vezes eu penso que sobra espaço. Que sobra vazio. 

Eu te esperei. Tirei o lixo, varri a casa e arrumei a cama. Preenchi outra parede com recortes de revista. Retoquei o batom. Desdobrei as mangas do pijama por causa da chegada da noite e do frio. Desdobrei as dores e coloquei-as fora junto com o resto da revista. Preciso preencher tudo isto. Com ou sem coisas. Mas não pode ser de sentimento. Sobram sentimentos. Posso classificá-los por ordem alfabética. Mas deve doer mexer neles. Deixo-os quietos e confusos.

Eu te esperei. Como quem espera alguém que não vem, mas ainda assim espera. Como quem espera se enganar com o próprio pessimismo. Como quem espera o interfone tocar. E esses dias até que ele tocou. Mas tinham errado de apartamento. 

 Fecho outro cigarro e espero.