quarta-feira, 1 de maio de 2013

Notes from the couch VII

Deixa eu ficar bêbada de qualquer coisa. Ver o teu sorriso apagado e dizer que tento. Até danço, sabia? Só que de olhos fechados. Como se não fosse aqui que eu danço. Como se as pernas não fossem minhas. Encontrei uma nova maneira de me ver. E é só não me enxergando que isso é possível. 
Não sou mais eu e não sei se algum dia cheguei a ser. Sei de tudo, menos de mim. E isto é menos triste do que soa. Não sei o que foi que criei. Se criei. Mas já está livre de mim. Está tão livre que se transformou em eu. Que me tomou. E em que me transformei se já não sou? 
Penso se é ausência de mar. De sal. Ou se é o açúcar que eu não coloco mais no café. Talvez o próprio café. Ou essa maneira que eu encontrei de dormir: ergo as pernas na parede e sinto o sangue descendo até as minhas coxas nuas. Assim não tenho pesadelos. Mas acordo exausta no outro dia. 
Preciso tanto escrever. Mas não escrevo. Engasgo e sufoco. As duas coisas juntas. Pois só em dobro pode-se ter o prazer de ver morrer o que não nasceu. Substituí as palavras pela dança. Talvez seja isso. Troco as coisas de lugar. E transformo em caos o que foi a paz durante alguns meses. 
Acho que vou para a praia um dia desses. Sentir a areia entrar no sapato e detestar estar lá. Tirar as roupas e correr para o mar, como naquela manhã em que eu pensei que poderia. Como naquela manhã em que o medo saiu de mim com a gargalhada e eu corri para o fundo, anestesiada demais para saber qual seria a dimensão da realidade. 

Deixa eu matar. A tal da realidade. E bebê-la falecida. Deixa eu tomá-la em meus braços e arrancar seu último suspiro de derrota. Saber que dela eu não nasci e que para ela nunca voltarei.