domingo, 24 de fevereiro de 2013

Carta não enviada IV


Já vou preparada. Por que inventar que não vai doer (de novo)? Sempre dói. Alimentar essa esperança inútil não é apenas alimentar uma vírgula, mas destruir um pouco mais disto que insiste em sobreviver. Então eu vou sabendo que o novo é sempre o mesmo novo. Que de tão velho já nem acho classificação. E que de tanto machucar já não vai machucar da mesma forma. Mas vou preparada para que machuque. Afinal, mais vale que eu me surpreenda positivamente do que me decepcione por pensar que seria diferente.
Nem coloco mais um 'entende', depois de uma vírgula, no final de uma frase, seguido de um ponto de interrogação. O que é que pode ser compreensível disso tudo? Até a minha pontuação é incorreta. Sequer coloco ponto final. Porque seria irônico da minha parte colocar um fim onde sei que dificilmente irá ter. Vês que não uso o termo 'jamais'. Mas esta frase longa é eufemismo. Tanto faz.
Poucas coisas ainda importam. E menos ainda delas fazem sentido. Já vou preparada. E talvez isto assinale a diferença. Porque antes eu encarava sempre do mesmo jeito: vai passar. E de novo achava que ia passar. Seis meses depois o mesmo pensamento. Agora sei: não vai. Então coloco os barcos de papel na poça d'água e não torço para que eles saiam ilesos do temporal.

Vai chover. E deixa que chova. Nada posso fazer a não ser me molhar e sorrir com isto.