quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Notes from the couch II

Ah, se eu pudesse passar embriagada todos os dias, garanto que eu seria mais paciente. Que seria menos perfeccionista. Teria mais calma, paz. Conseguiria ler mais, pensar, aceitar as coisas como elas são. Mastigar o que insiste em me atormentar.
Eu dançaria todo dia sem roupa. Cantaria desafinadamente uma canção que não existe. Escreveria contos, poesias e vírgulas. Cozinharia as incertezas em banho maria. Daria nome para os vazios. Vestiria de camisola vermelha os princípios. Faria barcos de papel, colocaria pano em cima do ralo do box, só para deixar o banheiro inundado e ver os barcos flutuando. Ou afundando.
Ah, se o copo pudesse estar sempre cheio de vinho, só pra depois ficar vazio, garanto que eu ficaria mais vezes confortável. Que minhas bochechas vermelhas não seriam por causa da vergonha. Que a luz que brilharia dentro e fora de mim seria a da lua cheia.
Eu preencheria estas e outras páginas pautadas. Esvaziaria os temporais. Filmaria a chuva de raios da esquina da cidade pequena. Pisaria com os pés nus no asfalto encharcado e quente. Conversaria fluentemente, sem receios, com interjeições. Colocaria uma violeta na janela da cozinha e abriria a cortina para o sol entrar.