sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Querida Natasha,

uma vez eu li 'o problema de todas as histórias é que elas são contadas depois do fim'. Acho que levei essa frase muito a sério e resolvi contar antes que elas acontecessem. Ainda não sei avaliar os resultados, os estragos. Isto se eu posso chamar eles de estragos. Aquilo que você disse nas primeiras cartas, sobre criar antes de viver. Bem, até que ponto consigo aguentar, me pergunto. E em que lugar isso tudo vai dar. 
Ontem choveu e eu quis tomar banho de chuva. Mas os pingos eram muito finos. Sempre penso em você quando quero fazer algo e o meu orgulho impede. Penso que você me diria 'vai lá'. E eu estou indo, sabe. Nem sei pra onde vou, mas vou. Acho que agora isso é o mais importante. Levo alguns mundos, não no colo, como você quer, mas nas costas. E talvez seja isso que me deixe tão pesada, sabe? Não consigo colocá-los dentro de mim. Na verdade, não quero colocá-los dentro de mim. 'Eles' dizem que só podemos ter uma vida, um mundo. E eu não entendo, não entendo porque em um dia não posso ser uma coisa e na semana seguinte outra. 
Eu queria te contar que. Mas uma quase ressaca acordou comigo, acordou de uma noite mal dormida. Uma quase ressaca moral, mesmo que eu não identifique os motivos. E da semana, a casa bagunçada é o que ficou. Não sei o que é que eu tenho para contar. Hoje não tem chuva, mas o dia está cinza. E nada me conforta mais do que um dia sem cor.

Com carinho,
Thaís