terça-feira, 20 de novembro de 2012

Querida Natasha,

sempre pensei que trabalhar em algo assim pudesse curar essa coisa que não sabemos de onde vem, mas que por vezes se chama 'vazio' e vivemos procurando algo para colocar no lugar. Pensei que ver a dor dos outros pudesse diminuir a nossa. Mas não sei se, a longo prazo, funcionaria. Não como uma questão de egoísmo, mas de olhar para o próprio umbigo. E olhar para o umbigo do outro.
Lembro que eu te disse que sair de casa é sempre uma possibilidade de. Que isso era melhor do que ficar sem fazer nada. E não pensei que te envolverias tanto. Você mesma disse que sempre foi metida a forte. Mas te entendo quando dizes que a miséria é um monstro, que o teu ponto fraco é a humanidade. Não coloque o mundo no colo, por favor. Acho que ele nunca poderá ser salvo. E não digo isso com o meu lado pessimista.
Sei que, apesar disso, os teus dias estão sendo bons. E ler que estás de braços abertos é saber que a vida está se desdobrando para ti da mesma forma que para mim. Que apesar de estarmos em lugares diferentes, tendo experiências diferentes, a essência é a mesma. 
Não tenho feito muito mais do que você. Acumulo garrafas de vinho vazias ao lado da geladeira e aprendi a colocar em prática uma coisa que antes vivia só na teoria. A dançar na ponta dos pés, mas com força, sem pressa, sem medo da chuva, sem desespero. Tenho uma vontade absurda de ser tudo, de querer todos os mundos, mesmo que não queira colocá-los no colo, assim como você. E é justamente por essa vontade que danço, sem me importar se estou seguindo o ritmo da música. O mais importante é dançar.
Enquanto você sofre com a gastrite, sofro com dor de garganta. E alterno os remédios com cerveja. Não faça isso. Sempre passa, a velha frase clichê. Que nunca deixa de ser verdade.
Trouxe quase todos os livros para o apartamento novo. Pendurei o quadro da Lispector, do Chaplin e do Bukowski. Comprei uma mesa, um lixo para a cozinha e cortinas. Não bebo mais chá de morango e café com açúcar. Coloco Chico às 3h da madrugada, a mesma música, repetidas vezes, com a janela aberta. Sei que os vizinhos me odeiam, mas não os conheço. E cultura faz bem, mesmo que no meio da noite. Às vezes coloco Beethoven, fecho os olhos e penso que posso conduzir todos os meus sentimentos. Mas sei que não posso. E esse sempre vai ser o meu problema.

Com carinho,
Thaís

Em resposta a http://apertateclasap.blogspot.com.br/2012/11/querida-thais.html