sábado, 1 de setembro de 2012

Uma camada de umidade, em cima da mesa vermelha de plástico, distraía os seus olhos e os seus ouvidos da conversa. Não conseguia acompanhar a fala completa de ninguém, apenas o começo desta e o final. Os ruídos dos carros, que passavam dos dois lados da avenida, já haviam se tornado normais. Ela sabia que faziam parte daquele cenário. A cerveja descia rapidamente, esfriando o estômago vazio. As músicas irritantes e altas, que saíam de alguns veículos, não mais a distraíam. Era o dia 30 e o fim do mês a agradava.
O frio não existia, sequer o calor. Era apenas o meio termo que ela detestava, mas a apatia não a deixava sentir qualquer coisa. Passava o dedo pela mesa vermelha, formando às vezes um desenho, sem querer um nome, e depois voltava os olhos assustados para cima, tentando identificar o assunto principal. As palavras morriam na mente. Havia lido tanto nas últimas duas semanas que esquecera de pensar, que esquecera de manter os diálogos. Quando pensava em algum comentário, ele era dito apenas no consciente. Os lábios rachados não se moviam.
Esperou que todos saíssem, pegou mais uma cerveja e viu as pessoas do outro lado da rua, as imagens se tornando um borrão, sendo engolidos pela escuridão. Apenas as cadeiras e as mesas vazias ficaram fazendo companhia para ela. Agosto, agosto, conseguiu dizer quase sussurrando, a garganta seca, apenas molhada de cerveja, para deixar qualquer frase sair limpa. Continuava dentro dela a imagem que havia criado do mês. E já não sabia qual era esta imagem. E se em agosto passado havia sido assim. No fundo, é claro que sabia que os nomes não alterariam coisa alguma. Insistia nisto para se distrair. Insistia nisso porque, desta forma, poderia colocar a culpa em alguém.
No dia seguinte a dor de cabeça apareceu, depois de um mês. A ressaca nunca foi tão bonita naqueles olhos castanhos e os lábios sem batom algum nunca combinaram tanto com a pele sardenta. Era o último dia de agosto e engolira água salgada sem um mar. Engolira sorrindo, porque não sabia se agosto continuava enganando-a ou se setembro havia assassinado ele e já afirmava que faria com que ela dançasse, o corpo disposto e o rosto sem olheiras, pelos dias que ainda não havia criado.