segunda-feira, 10 de setembro de 2012

"(...) se naquele momento se aproximasse de um espelho o encontraria em branco, embora a física não encontrasse uma explicação exata para aquele fenômeno." Gabriel García Márquez

Que sim, que não, que tanto uma resposta quanto a outra tem o mesmo efeito. Que a chuva voltou a cair e talvez não pare mais. Que as botas não são suficientes, e quando é que eu poderia pensar uma coisa dessas? Que talvez o avião fique parado e não decole, porque mesmo fininha a água cai. E que tudo bem se fugir não adianta, mas eu pelo menos posso fazer isso, já que qualquer outra coisa está fora do meu alcance. E digo isto porque estou sentada aqui e é confortável, mesmo que com a calça encharcada e o coração assim e, ah... esqueci dos pensamentos. Mas bem, o que é que eu posso falar senão isso? Está fora do meu alcance. E está mesmo, visto que eu não tenho a intenção de brigar com o que quer que seja para um começo ou um fim. Deixa a água cair. Ou deixa ela parar de cair. Porque não faz diferença e não importa se seguimos molhados, secos, partidos ou inteiros.
A questão - e não digo questão como uma intenção de pergunta - é que seguimos. E que sempre haverá chuva, e depois neblina e sol. Não importa a ordem. Veja bem que digo que não importa a ordem, mas se sabe e eu sei que importa, sim. Não para mim ou para ele ou para quem quer que seja, mas simplesmente importa. Porque os fatos se chocam no tempo. E o tempo não se importa em esbarrar com os fatos. É que não é ele quem quebra e depois precisa se costurar e se restaurar. Ele só faz chover e deixa o sol derreter e a garoa encobrir a certeza de que havia alguma certeza, mesmo quando isso parecia ser a garantia de algum futuro. Mas que futuro, pergunto eu, não para você nem para ele, mas pergunto porque não posso colocar um ponto final, às vezes sequer uma vírgula ou os dois juntos.
Então não coloco nada. E talvez seja por essa decisão que o telefone voltou a tocar, mesmo quando eu não pude atender. Ele tocou. E só esse sinal foi suficiente para que eu pudesse pensar que sim, que não, que tanto uma resposta quanto a outra teria o mesmo efeito. Pois afinal ainda há alguma esperança, uma esperança não tão suicida como as outras. Ela apenas é lenta e gosta de sentar na ponte e ver os barcos passando, mesmo em dias chuvosos quando não há barcos nem horizonte. Mas lá está ela, calma, na ponte que talvez já nem balance com o vento, o que diminui ainda mais as chances de um suicídio, de dois ou de três ou de quantos ela quiser, porque só ela pode decidir quantas vezes pular ao mar - e quantas vezes morrer, sim.
Mas assim, com ele tocando e eu não atendendo, penso que ela recusou essas possibilidades de suicídio. E recusando as possibilidades ela me dá outras, ainda mais concretas do que as anteriores, com pausas e angústias cessadas, pois agora que eu parei de pôr pontos, vírgulas e pontos e vírgulas tudo pode. Ou nada. Mas queria dizer que tanto uma coisa quanto a outra me sacia, uma vez que não há nada e que qualquer coisa que preencha esse nada já é alguma coisa.