quinta-feira, 20 de setembro de 2012


Quero pintar as paredes de um novo quarto, onde só o eco da minha voz pode me fazer companhia enquanto cuido para não deixar pingar a tinta no chão, enquanto me concentro em não deixar um fio de tinta mais grosso na parede. Quero pintar as paredes de um novo quarto e sujar minha camiseta velha e ver o dia passar por uma janela completamente desconhecida e pensar que, mesmo sem a intimidade, ela é minha. Quero apreciar a vista de uma nova casa, de uma nova vida, mesmo se do lado de fora só houver prédios e um céu cinza. Não me importo. Eu vou colorir os dias com as cores que eu arranco das revistas de moda, das revistas de casa e de arte. E vou silenciar os gritos e os pesadelos que nunca me deixam dormir como eu preciso. Vou engolir a vontade de sentar no meio da rua e chorar toda a vez que eu me sentir perdida, que eu me sentir sozinha e sem saber onde pegar o ônibus. Vou colocar Bright Eyes bem alto na minha sala sem móveis e me sentar para escrever no chão, pôr em dia a agenda amarela que eu esqueci por causa da mudança.
Quero pintar a minha nova vida. Quero comprar uma saia e me fazer rainha do próprio castelo de papel, que eu vou desenhar na única parede branca do quarto. Quero um novo castelo que fique seco dentro de casa, dentro de mim. E vou cuidar tanto tanto dele, mesmo que a minha coroa esteja quebrada. E talvez a felicidade dure dois dias ou dois anos. Isso não vai fazer diferença. Sei que terei de usar as minhas botas de chuva, porque as tempestades estarão presentes, senão com frequência apenas de vez em quando, pegando-me de surpresa na saída do trabalho ou da faculdade. Mas quero ter a possibilidade de andar com as minhas galochas em ruas desconhecidas, longe do aconchego falso que criaram, longe das xícaras de porcelana.
E talvez depois de quatro meses eu não queira mais. Não importa. Eu quero agora.