terça-feira, 18 de setembro de 2012

Dos meus sonos

Sei que jamais conseguirei fechar os olhos e acordar sem olheiras e que o coração que bate dentro de mim nunca vai se acalmar. E que continuarei a morder o meu lábio inferior e fazê-lo sangrar. E que ficarei cada vez mais parecida com ela, primeiro engordando, depois acordando em prantos no meio da noite por causa dos pesadelos. Sei que eles fixaram residência na minha alma, e que lentamente dominam a pouca consciência que consigo colocar em um lugar alto dentro de mim, longe dessa enchente que vai subindo e destruindo todos os móveis. A chuva não para, mesmo quando o dia começa com sol. Lá está. Aqui está. Aqui dentro está a chuva.
Sei que jamais conseguirei manter os músculos da boca relaxados e minhas mãos, pequenas e brancas, nunca irão segurar uma folha de papel por um minuto sem que a marca dos dedos deixe o papel amassado. Não consigo dormir porque respiro muito rápido, você me diz. Mas se tento respirar devagar, paro. E você me sacode assustado, na cama, falando que eu não posso parar de respirar. Mas se respiro calmamente, tenho pesadelos. E agora as minhas ações do sonho estão na realidade. Aí você também me acorda pedindo para eu me aquietar, que faço barulhos estranhos com a boca, e na verdade acho que esses barulhos são a tentava da fala. Só que se eu falasse deixaria de ser pesadelo.
Sei que jamais conseguirei ter aquele sono que eu tinha antigamente e que talvez já não me importe com isso, porque agora estou preocupada em parar nesta fase, nesta fase em que os pesadelos tentam dominar a realidade, mas ainda não ultrapassam os ruídos que faço com a boca.