quarta-feira, 11 de abril de 2012


Era confortante vê-los ao lado do armário, comportados, calados, sabendo o quão eram elegantes com aquelas gravatas escuras e com as camisas brancas bem passadas. Eles quase não se moviam. Os traços dos rostos menos ainda. Formavam um belo trio, sem dúvida. Polidos, cuidados e vangloriados eles pareciam muito mais do que realmente eram. Não cansavam de ficar, dia e noite, naquelas cadeiras desconfortáveis de madeira. Ao longo de quatro anos permaneceram desta forma, quase convencidos de que eram indispensáveis. Mas, se tinha uma palavra que jamais os definiriam, essa palavra era utilidade.
E os três princípios, tão certos da própria existência, foram assassinados quando, ajoelhada no meio do quarto, a mulher descobriu que o trio era um peso a mais, uma preocupação a mais para os dias, principalmente os de chuva. Deixou de passar as camisas, alimentá-los, sorrir para eles, até que os três, arruinados em si mesmos, desapareceram com a mesma falta de motivo com que foram criados. E ela respirou aliviada, a sensação de vida susbstituindo a de morte enquanto retirava as cadeiras vazias, varria o espaço que elas ocupavam no quarto e observava o vazio que poderia ser preenchido.

"(...) melhor abafar tudo com o zumbido suave e contínuo de um televisor" Thompson