domingo, 18 de setembro de 2011

Pela manhã, apenas algumas latas de cerveja atrás do computador, outras ao lado do lixo com papéis brancos rabiscados, amassados, palavras descompostas pela chuva. Pela manhã, apenas a melancolia maquiada, vestígios dos pesadelos, realidade descompassada. Pela manhã, apenas a apatia, o temporal se armando, certezas passageiras e o dia que pode se fazer longo. Pela manhã, apenas a ressaca, o relógio que não desperta, as cobertas desalinhadas, o pijama jogado ao chão. Pela manhã, apenas o gosto de nostalgia, pássaros cantando alto demais, ônibus passando em frente a casa, sombras na parede branca, um vazio tão cheio que transborda. Pela manhã, a porta entreaberta, esperando esperando... não se sabe o que, quem ou por quê. Mas espera. Pela manhã, a dor de cabeça passageira, o coração palpitando por causa da cafeína e do álcool, a mente tentando imaginar a rotina da menina, rotina sempre quebrada por demagogias.
E aquele perfume quase sem cheiro das noites de inverno que se transformam na próxima estação. Ele não sente. Apenas pensa que ela estará lá, na mesma mesa, mesma noite, mesmo dia da semana, mesmo rosto apático quebrado pela vergonha, mesma entonação nas frases longas, mesmo sorriso calmo, mesmas mãos geladas com movimentos agitados. Mas ele quase nunca está lá, apenas espera os finais de semana, a rua longa, a casa, seus lábios encostados em outros, não tão quentes, não tão bonitos, não tão desejáveis. E ela não pensa. Sente apenas um desespero que não pode ser quebrado, não deixa as lágrimas rolarem porque tudo se esgotou. E vive este esgotamento, esperando, esperando... mas ela sabe o que, quem e por quê. Está do outro lado do abismo, encarando o mundo dele, o mundo que nunca vai conhecer. Não há tapete vermelho para que ela caminhe com seus sapatos silenciosos. E ninguém vai coroá-la rainha em um mundo que não é seu.