sexta-feira, 17 de junho de 2011

"Você pode me falar de rios e da chuva e eu posso lhe falar sobre os corpos emaciados pela droga e sua agonia, sonhando com uma vida mais luminosa do que a que receberam, sem mulher ou emprego ou nação, tombadas em bares floridos de homossexuais tocando pianos desafinados." Bukowski

Ainda espero te encontrar quando viro em alguma esquina escura dessas ruas estreitas e cobertas pela neblina de outono. Eu sei, amor. Você vai dizer que é besteira. Que eu sou de cidade pequena e você transita pelos trens de cidade grande. É incoerência, eu sei. Mas ainda sonho ver, entre um e outro dia turbulento de trabalho, os seus olhos pequenos e o seu cabelo preto bagunçado. Caminho com passos apressados e quase esqueço de ver a lua que majestosamente sorri de lá de cima. Se faz rainha nesse céu escuro. E um dia me disseram que ela nem era minha. Que ousadia.
Ainda espero beijar teus olhos fechados e sentir o gosto salgado das tuas lágrimas. Quero te contar as histórias que uma vez eu inventava com frequência e que agora raramente se reproduzem na minha mente. Sim, querido. Deixo você dizer que o meu repertório de palavras está cansativo e que usar todo o tempo o termo melancolia está ensurdecedor, mesmo que você não escute o gotejar destas frases mal escritas. Espero o frio que me aquece pra dormir. E as boas noites de sono não dependem da cerveja nos finais da aula de sexta, e sim de você.
Te olho com os dentes marcados de batom barato. Te olho em um reflexo dessas nuvens rosas que logo se desmancham como algodão doce. Te olho e você diz que precisa cuidar de mim. Mas tudo parece roteiro de filme. Não sei o que é real nesse jogo que criamos e ignoramos os pormenores.
Faça a barba. Tudo vai ficar bem. Eu parei de pintar as unhas com tons de vermelhos, mas acabei perdendo as cores que ali estavam. Sim, garoto.Você pode achar um denominador comum para as nossas vidas. Eu sei. Esse denominador comum é o protagonista. E ele dança em nossos peitos com sapatos sujos cheios de neve.

M.B.