quinta-feira, 16 de junho de 2011

Solidão também é cor

VI
O frio entra pelos olhos, pelo nariz e pelos ouvidos. O frio desperta toda a sensibilidade camuflada no verão. O frio deixa a pessoa que olha para o céu um pouco mais vulnerável. E ela se vê só admirando a beleza infinita. O vento bate no rosto, deixando-o dormente. É um convite para a solidão.

VIII
Nas chamas do fogo aceso no inverno, como forma de aquecer o corpo, brilham as poucas certezas da vida. O fogo logo vira brasa. Todos nós viramos cinzas. Mas não se engane: solidão não é morte. Solidão é vida.

IX
A solidão entra pela respiração quando todos estão dormindo, depois passa a fazer parte dos sonhos e, aos poucos, é uma realidade que não pode ser deixada de lado. Solidão é consciente e inconsciente.

XII
O outono chega com as botas pesadas, cheias de lama. Ele faz todas as árvores ficarem nuas, destrói a vida das folhas que lutam para se manter nos galhos. O ar de outono traz os sonhos que se perderam nas estações. O outono é o cenário perfeito para a solidão dançar com sua sapatilha de bailarina.

XIV
O pato nada de um lado para o poutro na lagoa. Só é alimentado com pão no final de semana. Nos outros dias bebe a água do lago. Mal sabe ele que a água está impregnada de solidão.

XV
As árvores mortas, o céu cinza, os quatro graus às oito horas da manhã e a mulher indo trabalhar. Nem um movimento humano na rua. Apenas o cansaço e o sono nos ombros. Caminha com passos moles. E a solidão escorrendo da neblina. E a solidão cantando uma música para a mulher não ficar tão só. Que ironia!

XVI
A lua bordejando no céu. Mesmo com todas as estrelas, o brilho que emana dela traduz tão bem a solidão que torna-se piegas ficar falando sobre isso. Todo mundo vive um pouco de solidão, afinal. Negar a afirmação é não saber lidar com os sentimentos.