quinta-feira, 7 de outubro de 2010


Quando saía pelas ruas de manhã, o seu cabelo bagunçado, a chuva miúda caindo, os olhos praticamente fechados como marca de quem recém acordou. Quem a visse diria que era apenas mais uma. E ela era. Mas quem poderia imaginar que naquele mente não se passavam certezas?
Pra que rua dobraria quando chegasse na esquina?
Que palavras devia dizer ao chegar no trabalho?
Beberia café ou chá?
Desejaria o sol no começo da tarde ou pediria inconscientemente que a chuva continuasse a cair?
Dormiria na próxima madrugada ou leria durante horas sem parar?
Mas não importava o que escolhesse, a mesma falta de sentido continuaria a se sentar do lado dela, as pernas cruzadas, o rosto rígido e moreno. A falta de sentido era mais humana e má do que qualquer outra pessoa.

"(...) quantas vezes as hesitações como mudanças de luz, e não se precisava forçar a união de um trecho a outro, bastava dormir que se acordava no dia seguinte, uma vez mais tarde, uma vez mais cedo." Lispector