segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Ela liga o rádio e a música não começa a tocar, abre a boca pra falar e as palavras não saem, tenta escrever mas a mão permanece imóvel. O frio entra pela janela aberta da sala e tudo o que ela consegue desejar é sair pela rua, no meio da noite, correndo pra lugar nenhum. Mas não pode simplesmente ir. A melancolia a acorrenta no quarto, a falta de vontade no corpo, o cansaço mental já durando três semanas. E não há nuvens suficientes no céu pra desenhar qualquer coisa.

-Não sei lidar com realidade. Talvez porque ela é o meu sonho.
-Aí você reclama? Você reclama do seu próprio sonho?
-É que eu tenho que reclamar de alguma coisa, do contrário o barco não segue.
-Querida, o barco já furou há muito tempo.

Precisava do frio e de estrelas caindo. Precisava ver a lua durante o dia e precisava de um peixe pra conversar quando chegasse da faculdade. Precisava do silêncio absoluto e de paredes que não descascassem e de fotos que não reproduzissem rostos e sorrisos. Precisava ir em direção ao mar, fechar os olhos e gritar bem alto pra dentro de si que tanto fazia ela pro mundo, ele ia continuar girando no mesmo ritmo.