terça-feira, 10 de agosto de 2010

Eu a vi naquela palestra sobre fotografia, a sala lotada, as vozes todas tentando penetrar na minha mente. Tão linda que eu tinha vontade de dizer para ela nunca mais se mover. Tão linda com aquele cabelo loiro virgem meio preso com um rabicó verde e com um brilho tão inocente nos olhos. Ela era uma Miranda (personagem de O Colecionador, John Fowles). Talvez fosse a minha Miranda. Mas eu nem ao menos sabia o seu nome verdadeiro. Só via aqueles traços perfeitos do seu rosto, as bochechas levemente vermelhas e uma seriedade que me doeu. Achei que nunca mais fosse vê-la.
Ontem entrei na sala de aula, quase um mês depois da palestra, sentei e olhei pra frente. Reconheci o cabelo loiro e os olhos claros. Miranda. Não pronunciou uma palavra durante toda a aula. No final, perguntaram-na o seu curso. Não é o mesmo que o meu e ela se enrolou toda ao responder.
Vou vê-la toda a segunda, à noite. Agora sei o seu nome, idade e até ouvi a sua voz. Mas parece que alguma coisa me decepcionou. Acho que ela não é tão perfeita quanto pensei que fosse. É resistente demais, fala pouco demais e deve ser burra demais.
Sempre há uma lacuna.