sábado, 13 de março de 2010

Tem uma camiseta do Chaplin já surrada e um óculos que lhe dá a aparência de cômica. Come patê de atum quase todo dia. Não porque sente fome, mas porque é uma rotina e dela não pode se desfazer.
Acumula tantos 'elas' dentro de si que já não sabe mais qual deles é o real. Não que realidade seja uma coisa essencial na sua vida. A perda da sua própria identidade a liberta, dá-lhe asas para escolher as cores do seu rosto e da sua vida.
Palavras. Sempre em busca de palavras. Porque pra ela palavras significa ar. E sem ar não pode viver. Sente a morte seguida quando as frases não preenchem o dia. Sente sua respiração lenta e torturante, já sabendo que o próximo instante pode ser fatal.
Como definir aquelas fotos que já perderam a importância? Enfeite. Comodismo. Passado.
Tem dificuldade em escrever no presente. Tem dificuldade em esperar. Corre, corre e cai. Quase nunca sente vontade alguma em levantar. Por que é que não acredita em verdade? Talvez porque verdade não é pra ser acreditada, é pra ser simplesmente digerida. E ela não sabe digerir.
Maria. Outra Maria. Mas ela é, sim, uma Maria. Comum e complexa. Feia e estranha. Cheia de plural e aspas. O cabelo oleoso e as mãos pequenas. Sempre a espera de um rompimento de algum fio da sua vida. Tem poucos. Por isso que tem medo.
Arrota o que não come. Sonha o que não existe. Acorda no meio da noite pra ter certeza de que está viva.

Mas nunca sabe quando sonha e quando vive. Não sabe nem ao menos se é real. Mas o que eu disse antes mesmo? Ah, que realidade não é uma coisa essencial na sua vida. Então tanto faz.