quarta-feira, 31 de março de 2010

Ela gosta dos detalhes. Não os detalhes concretos, mas aqueles que pendem num olhar: o brilho se apagando junto com o sorriso, as olheiras fundas de talvez uma noite mal dormida ou a própria insônia. Tudo isso ela percebe e é difícil enganá-la nessa questão.
Não sente saudade, sente tristeza. Talvez porque não sabe a diferença entre uma e outra acaba misturando num jarro só e bebendo disso como se bebe uma jarra de água em apenas um dia. Os motivos da tristeza nunca existem ou, se existem, não são claros. Não que ela goste de sofrer, mas a tristeza vem por um dia ou dois, acomoda-se no seu interior e depois parte sem motivo algum, também.
As palavras é a única coisa certa para ela. Todo o resto sempre acaba enjoando-lhe: as pessoas, as cores, as músicas, as comidas, as festas e, inacreditavelmente, o seu próprio reflexo no espelho.
Os motivos não são essenciais em sua vida. Perdera tantas coisas sem motivo que hoje ele não tem lugar dentro dela. A noite é para ela a lucidez e a loucura, uma mistura de incoerências e paz que não se pode traduzir. Gosta da noite porque é dela que vem as palavras e é nela que tudo vive e que tudo morre. Não gosta do dia porque ele é claro demais, cansativo demais, não acaba nunca. E quando acaba deixa uma certa melancolia.

Vinho, ar puro e fotografia. O vento gelado do inverno e o nascer do sol no verão.
Música, mar e incoerência. A anomalia de cada rosto mergulhando em seu ser.

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