terça-feira, 5 de maio de 2009

Eu preciso muito mais explicar as pessoas pra mim do que traduzir-me para mim mesma. Eu entendo a complexidade do meu inconsciente e sei que as surpresas que virão pela frente não vão ser tão surpresas assim. E quanto as pessoas, eu tento fingir que elas são bem menos conceituadas do que elas me falam, demonstram e pensam.



Bem, daqui a algum tempo -espero que não muito- nós vamos ter um trailer e largar tudo para viajar pelo mundo. Vamos apreciar a vida com risco e adquirir muito mais conhecimento do que milhares de pessoas no final de suas vidas. Eu ainda vou usar tênis e o cabelo descolorido, e vou acordar com a sua camiseta de manhã e preparar o seu café.
Quando a realidade pisar em nossos calcanhares a vida mundana vai nos puxar para si como qualquer coisa pegajosa e então eu vou amadurecer fisicamente, meus pés vão ser fortes e minha pele vai deixar de ser sensível. Vou parar de arrastar os pés e ser simpática de verdade com as pessoas. Vou levantar quando as cores do pôr do sol forem a paisagem perfeita para os meus olhos, colocar o meu sapato de salto alto, meu casaco azul marinho, prender o meu cabelo num rabo bem alto e pintar os lábios de vermelho. Vou trabalhar durante toda a noite no computador de abrir e fechar, branco, sem frescura nenhuma. Vou ter as unhas bem feitas e beber mais café. Vou voltar para casa assim que o sol começar a esquentar meus neurônios e encontrar você dormindo na nossa cama. Provavelmente ainda vai ser cidade grande e uma rotina filha da puta, mas o trabalho não vai ser entendiante e vai ser noturno. Aí alguém da minha atual realidade vai me encontrar na rua e me perguntar:
-Mas não era tu que afirmava com tamanha arrogância que as pessoas não mudam?
Vou apenas sorrir, com calma e simpatia e responder:
-Depende do ponto de vista o verbo mudar.
E então, quando tudo parecer confortável e antes do comodismo tomar conta de nossas vidas, nós vamos para o campo e o meu sapato de salto alto vai ser trocado por belos e confortáveis chinelos de pano e minha roupa vai ser larga e nós vamos cuidar das nossas árvores e das nossas vacas. Vamos escrever belos livros e compôr belas músicas, vamos ter filhos e eles vão ler tanto quanto nós e vão dizer palavras afetuosas e não vão comer carne.
Quanto tudo chegar ao fim, vai ser outro começo, com vinho, charuto e amor. E eu ainda vou olhar para as estrelas, junto de você, colocar as mãos nos bolsos do seu casaco e falar o quanto sou feliz.