quinta-feira, 1 de maio de 2014

Nota de rodapé

² Dia desses, atravessando a rua, você disse que eu tinha uma capacidade enorme para ser boa, mas que em algumas situações podia ser incrivelmente má. Discorrendo sobre isso, você chegou à conclusão de que tudo está relacionado com a minha bolha. Se ninguém encostar nela, retribuo com um sorriso - ou o que de melhor tiver no momento. Se encostarem/perfurarem, não respondo por mim. Engraçado que isso pode soar extremamente contraditório, uma vez que separamos as pessoas em boas e más, independente da situação. 
Hoje, atravessando a mesma rua, relembrei a conversa e como me sinto mal quando um desconhecido me fita na rua. Esse tipo de ação está no limite entre não encostar na bolha e tocar nela. Nunca sei muito bem o que fazer. Já pensei em responder com uma careta, mas o meu primeiro pensamento é sempre passar a mão na roupa para ver se a camisa está aberta ou se a calça está limpa. Dependendo do dia, essa simples linha tênue pode me deixar louca.
E estes dois parágrafos me fazem pensar nas pessoas loucas de fato. Fico me questionando se elas ficaram assim/são assim porque alguém, algum dia, furou de uma maneira terrível a bolha delas. Uma grande decepção amorosa também é um fato furador de bolhas, acrescento aqui. Não são apenas os toques e contatos visuais e físicos que contribuem para esse estouro. Toda tristeza é um tapa na bolha. Todo medo é mais uma perfuração. 
Agora ando na rua imaginando uma grande bolha ao redor das pessoas. Pelas expressões faciais, vejo uns círculos que comprimem mais os corpos, outros que estão completamente perfurados e alguns que, murchos, caem por cima dos cabelos e se tornam um grande fardo. Entretanto, nunca consigo ver como está a minha própria bolha. Às vezes paro na ponte, em frente ao rio, na expectativa de vê-la refletida na água. Mas a água é tão suja que não reflete coisa alguma.