sábado, 3 de maio de 2014

Farroupilha, 3 de maio de 1999.

Mamãe disse hoje que não devo mais brincar com M., que ela roubou meu coelhinho rosa e isso é uma coisa que não se fez faz. Concordo com mamãe, apesar de não ter dito. M. me maguou magoou muito. Não porque roubou meu coelhinho rosa, ele nem é meu brinquedo preferido, mas porque ela mentiu e me enganou. Falou que eu fui discuidada descuidada ao perder o meu, e que era coincidência ela ter ganhado um igual. Mal sabe ela (e eu!) que isso vai me perseguir quando for adulta, até chegar ao ponto de interferir nas minhas relações com as outras pessoas. O problema é que tenho o coração mole, disse mamãe. Que esqueço o mal que as pessoas me fazem. Mas mamãe também não sabe (nem eu!) que meu coraçãozinho guarda tudo. 
Saí da aula com uma vontade enorme de chorar, mas vovó, que me busca na escola, ficaria preocupada. Guardei as lágrimas para mais tarde. Cheguei em casa e peguei a máquina de escrever de mamãe. Quando chegou do trabalho, ela disse que não é brinquedo, mas deixou eu usar mesmo assim. Acho que viu que eu estava triste. Agora preciso parar de escrever essa carta na máquina. Vou fazer o dever de casa...