sábado, 23 de novembro de 2013

Notes from the couch XXIV

Sabendo, pois, que a tristeza é pesada demais, não posso com a tristeza dos outros. Se forçarem a entrada, vomito. É tanto que está dentro que não há espaço. Para abrir uma fenda, porém, é preciso que meu corpo se livre de algo. Entretanto, esse algo não sai. Permanece na ânsia de vômito que depois vira só ânsia. Sou, então, ânsia. Ânsia e tristeza. Ânsia, tristeza e loucura.
Na verdade, é necessário que se diga que estou louca com a minha loucura. Que já atingi outro estágio desta que é inimiga da lucidez. Estou, pois, duas vezes tomada pela loucura. A senhora que sentava-se delicadamente, com as pernas cruzadas, no canto do quarto - onde dispus uma cadeira forrada de veludo vermelho - já não me atinge com a calma e a simpatia de antes. Sumiu, esta, deixando um rastro intragável pelo corredor cinza do quarto andar.  E no meu pulmão. Em sua ausência física, senti aquela outra, aquela que eu julgava ter morrido. Estava tão certa disto que até havia começado a escrever um conto sobre a sua morte, no qual havia escolhido a seguinte frase para o topo da narrativa: "Um ensaio sobre a loucura". 
O que fazer agora que estou novamente tomada por ela, a ânsia corroendo a garganta, insultando o sono, delineando manchas pretas embaixo dos olhos, cortando a fome. Ponto de interrogação. O que fazer agora se o agora nunca irá se cessar, se a loucura corrompe os olhos, o brilho bordado cuidadosamente para os navegantes. Ponto de interrogação. 

Venho por meio deste dizer que sucumbo a mim mesma como sucumbi a tantos outros eu's. Sucumbida de mim mesma, e esta não tendo aceitado a minha rejeição, não posso fazer outra coisa a não ser me distrair de mim, mentir que já não sou, que já não me pertenço e que não voltarei a me aceitar.