Dói-me os pontos, as vírgulas, os parênteses. Dói em mim principalmente os parênteses. E os inícios. Primeiro parágrafo. Último. A última batida da máquina de escrever. As reticências. A frase longa. A frase curta.
Dói-me os extremos. E nunca conseguir o meio termo. Dói em mim a poesia sem rima. O título. Os entretítulos e as legendas. As explicações. A palavra posta no itálico. A expressão que não se usa. A negação.
Dói-me o dia. A hora. A semana. O mês. Só não me dói o ano. O Natal. Não me dói o carnaval. Nem as onomatopéias. As cacofonias, sim. As sinfonias, não. Dói em mim as repetições. E depois as repartições.
Dói-me o texto inacabado. E o texto que não sai. Dói em mim o silêncio. Mas dói mais o silêncio dito, o silêncio cortado, o silêncio entrecortado, o que está entre o silêncio. A sílaba que não foi separada. A separação forçada.
Dói-me o mim. O eu. O nós. O nó. O só.