quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Notes from the couch XIX

Se eu soubesse fazer música, jamais faria frases. Jamais comporia textos. Há na música o que escapa das palavras, o que as palavras tentam em vão buscar, mas só conseguem transmitir uma tradução distante daquilo que é. As notas é que transmitem os sentimentos. Não há barreira alguma entre eles. Não é uma transposição: é o puro. Você ouve o que está ali, na melodia, e sabe exatamente o que ela quer dizer. Não em significado, mas em grau absoluto de sentimento. Você sente. As palavras são vistas. São lidas. Você interpreta. Na música não há interpretação. Não é uma questão de entender. É de sentir ou não sentir.

Há algo no som que entra pelos poros, que penetra na veia e percorre todo o corpo. Há algo no som que envolve a alma e a deixa leve. 

Falo de música instrumental. Falo de música clássica. Falo do choro do violino. Falo do grito do contrabaixo. Falo do canto exasperado do piano. Falo do braço arrepiado - não pelo ar condicionado do teatro, mas pelo grau da composição.

A música é o sentimento livre.
A palavra é o sentimento lapidado.