sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Querida Natasha,

os meses se vão e não os noto. Sou como algo passageiro que percorre todas as camadas dos dias, que absorve cada segundo, cada pessoa, cada diálogo. Estou cheia de tudo, no sentido bom. Nem sempre é assim. Meu dia dá tantas voltas dentro de mim que pode ser comparado aos acontecimentos de um mês. Tudo em mim é torrencial. 
Tenho observado os pássaros passando pela minha janela. Uma tentativa de olhar para dentro. Vejo suas asas batendo furiosamente e depois se fechando, o que configura um mergulho deles no céu. Antes, nunca havia percebido que eles deixam de bater as asas por alguns segundos. Caem alguns metros. Repetem o movimento. Quando venta muito, é agoniante observar a luta. Penso que em qualquer momento um deles pode ser arremessado para dentro do meu quarto. E o que faria eu com um pássaro frágil dentro do quarto? Provavelmente, apegaria-me muito fácil a ele e o tomaria como um amigo, bloqueando a sua saída para a rua. 
Estou com tanta sede de companhia que faria isto, sim. Estou com sede de companhia. Não de conversas. Estou com sede de olhos ternos, de ruídos, de ver outras vidas neste quarto. Quero dar 'oi' e falar de vez em quando algumas frases desprovidas de qualquer nexo, sem que o outro lado questione a coerência. Quero ouvir vida, e não voz - a não ser que seja a dele. 
Eis a solidão. Um martírio e um alívio. A forca e a salvação. Algo que há um ano eu não consideraria um dualismo. Usaria apenas adjetivos positivos para classificá-la. Entretanto, é a solidão do mundo que me sufoca. Algo que eu não consigo colocar em uma ou duas frases. 
Te escrevi tantas cartas que perdi a conta. Não sei se te enviei alguma. Provavelmente não. Te sinto distante e me sinto distante. Mas é com todas as pessoas. Quero tanto saber saber o que se passa aí, nisso que chamam de coração. Se ele se infla e sorri. Se bate. Se dança. 
Quero tanto escrever. Te escrever. E pintar. E ir ao teatro. Fazer todas as coisas que eu gostava. O tempo me comprime. Me amassa. Mas há no final do dia, pelo menos, o vento - que eu fecho os olhos e finjo ser a brisa do mar. À noite, entre uma e outra cerveja, procuro algo que se descolou de mim. Talvez você encontre aí. 

Com saudade, 
Thaís