sábado, 21 de setembro de 2013

Notes from the couch XIV

Ainda não dormi, veja bem. 

São quase 4h, mas eu finjo que ainda não passa da 1h. E que amanhã não vou trabalhar às 8h. Não me deito porque a pior sensação é a de deitar com a esperança de fechar os olhos e apagar. Nunca apago. Quase sempre me viro tantas vezes na cama que o lençol escapa, e em segundos estou enrolada no pano azul. Nada é mais detestável do que o lençol embolado. 
A segunda coisa mais detestável são os barulhos da rua. Quando tento dormir, parece que todas as pessoas da cidade resolveram pegar o carro e frear na frente de casa, que todos os bêbados decidiram cantar na rua, que todos os acidentes acabaram por acontecer aqui na esquina. Até o porteiro escolhe ficar do lado de fora do prédio, exatamente embaixo da minha janela, espirrando sem parar. 
Assim, vou arrumando motivos para não pegar no sono. E assim os motivos vão se arrumando sozinhos. Quanto mais tarde fica, maior a desculpa para não dormir. Mais elas se acumulam do lado de fora da casa. E do lado de dentro do quarto. Porque dormir duas horas é sempre pior do que não dormir. 
O pior da insônia é não conseguir fazer outra coisa a não ser pensar em dormir. No fundo, bem no fundo, existe a esperança de pegar no sono. E essa esperança ínfima, mas real, impede que o corpo se levante, leia, beba água, faça os trabalhos pendentes, escute música ou qualquer atividade mais prazerosa do que ficar deitado com os olhos esbugalhados, os pés se mexendo incansavelmente, a coceira pelo corpo, a cabeça pesando no travesseiro que nunca está na posição certa. 
Não há nada de agradável na insônia. As olheiras se acumulam depois de dois ou três dias. Os olhos ardem tanto que é como se recém tivessem saído do mar – depois de um mergulho com as pálpebras abertas. O humor, somado ao café, é catastrófico nas primeiras horas da manhã. 

É a agonia de se afogar sem poder nadar.