segunda-feira, 18 de março de 2013

Barbas Tortas, 17 de março de 2013.

Querida Lissa,

nem sei há quantos dias que foi, ou se foram semanas. O tempo tem passado de uma maneira estranha: ora muito devagar, ora atropelando tudo. Há pouco era janeiro. Logo será abril. Mas isso que foi, que eu quero te contar, é que, enfim, achei que tinha parado de chover. Aquela chuva que deixava os meus pensamentos encharcados. E foi numa dessas madrugadas que achei poder escrever sobre os últimos dois anos de loucura.
Em pouco tempo, preenchi três páginas. O sono aniquilou-me, e pensei que poderia continuar em outras noites. Estão aqui, as únicas três páginas que escrevi. Não sei se ela voltou, Lissa. Não sei se, escrevendo, fiz com que a loucura voltasse, que a chuva me ensopasse na saída do trabalho, que eu sorrisse em meio ao caos. Não sei. Há muito que não tenho certeza alguma. E é suicídio psicológico procurar uma brecha e ver nela uma esperança. Esperança de que, meu Deus? De que poderei tirar de mim o que nem  sei como entrou?
Eis tudo de mim: isso que não tenho controle. E te dizer que estou esgotada não seria digno da minha parte. Não estou. Aliás, sinto-me viva e disposta. Tão viva que preciso sair da realidade para estar dentro dela. Tão viva que não me importo com o outro dia, com outra brecha, outra esperança estraçalhada, outro pranto engasgado na garganta quando vejo os meus olhos, cada vez mais pequenos, no reflexo da janela do ônibus.
Sinto saudade do barco. Porque desde que pulei em alto mar não vejo terra alguma à vista. Sequer há o desejo de ver. Nem sei, te digo, nem sei. O cigarro queima-me as mãos. Diluo-me em terceiras pessoas, em e-mails, cartas, parênteses, mas não mais em reticências. Não sou reticências. Sou. Ponto final. Precisa mais do que isso?
Nos momentos em que estou sozinha, consigo sentir a loucura. Meu rosto se contorce e adquire uma expressão séria e vaga. Como sei disto? São estes reflexos... Esse ímpeto que sai de mim, mas que não nasce de mim. Essa desistência misturada com a vontade de dançar na ponta dos pés. Mas eu nunca fui dançarina.

Vou te ver em breve. Algo me diz que sim. E que colocaremos nossa chuva e nossa loucura em garrafas de cerveja.

Com carinho e saudade,
senhora M. Batata