sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Oração

Por que não aceitá-la? Pergunto-me. Por que pensar que a mato mais um pouquinho quando outro gole de cerveja desce raspando a garganta? Por que me maltratar e maltratá-la, se ambas podemos maltratar o mundo? Por que fingir que talvez ela possa se transformar em uma menina doce, senão na própria lucidez, ao menos em algo parecido, um meio termo? Por que continuar inventando personagens se é a ela - e somente a ela - que quero me referir?
Até quando, pergunto-me, continuarei retendo-a nisso que chamo de armário. E que ele chama de peito. Até quando inventarei nomes, pintarei terceiras pessoas, e ele a chamará de pássaro azul. Se não é azul a cor deste ser. Se nunca foi. Se não há tinta que o faça ser. Até quando ela irá obedecer ao impulso. E eu a uma razão que não sei de onde sai. E até quando continuaremos chocando esses dois extremos, recolhendo os cacos e indo até o mercado da esquina para comprar super bonder.