quinta-feira, 15 de novembro de 2012

VI

Você está ali me dizendo para fazer menos barulho de madrugada, que vou acordar os vizinhos, que Beethoven precisa ficar mais baixo e a janela deve estar fechada, por causa dos mosquitos. Mas preciso deixar tudo aberto e dançar uma música sem ritmo, sem cor, sem som. A verdade é que na minha mente não há esse filtro de quem vou acordar ou que horas são. Preocupo-me é se o vinho está terminando. E, quando ele está, te peço para ir comprar mais no bar da esquina, quase sempre fechado, ou no posto. Na terça, quarta, quinta e todos os outros dias. E todas as manhãs que você me acorda muito cedo e eu finjo ainda estar dormindo, porque sinto um sono tão grande que não morre na primeira hora que nascem os raios de sol. Todas essas manhãs eu emolduro em um quadro sem imagem real. Apenas a nossa imagem a se distorcer no tempo. E na música que você cria com a flauta de R$ 1,99.