quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Querida Natasha,

não havia pensado no "destino das cartas". Mas sinto nostalgia ao lembrar do trabalho que dá escrever uma carta, dobrar cuidadosamente para as pontas permanecerem unidas de forma igualitária e ir até o correio. Eu costumava escrever muitas, acho que há dois anos. Tantas que o homem do correio me conhecia. Mandava vários sentimentos bonitos em envelopes coloridos, várias vezes por mês. De repente parei. Acho que é a falta de tempo, vivo me repetindo isso. Para justificar, sabe? Mês passado decidi voltar a escrever, mas desisti depois de calcular que perderia meu final de semana inteiro com isso. Volto e meia recebo alguma pelo correio, mas sempre demoro a responder. Acho detestável essa minha mania.
Nem sempre Chico Buarque me faz companhia, às vezes detesto ouvir a sua voz. Mas te entendo. E sabe o que é mais curioso? Sempre pensei que você não quisesse ter um relacionamento estável. Acho que construí uma imagem de ti fria demais. Atribuí a você um autocontrole, uma dose de raiva a rotina. Talvez eu esteja enganada. Só que nunca pensei que você não soubesse lidar com a paz. Quer dizer, no fundo sempre penso 'como alguém pode não querer a paz?', mas quem sabe nem eu mesma a queira, de fato.
Parece que todas as pessoas me dizem que não devo deixar as palavras enterradas. Sei que elas têm razão. Sei que você tem razão. Acho que desenvolvi um sentimento de medo, sabe? Medo de que interpretem meus sentimentos, de que interpretem a minha vida, de que usem as minhas frases para algo fútil, mesmo escrevendo na terceira pessoa do singular, mesmo atribuindo a minha vida a outras pessoas. Eu não sei. Já pensei tanto nisso. E me enrolo ainda mais toda a vez que continuo pensando.
Não acho que você seja mais ou menos escritora por deixar de escrever estórias. A maioria dos meus autores preferidos sempre estiveram presos demais dentro deles. E os considero os melhores. Talvez seja porque estou muito ancorada no real. Consigo 'sentir' apenas se 'existir'. Uma grande bobagem, eu sei. Não que tudo o que eu escreva seja real, longe disso, mas vários elementos são tirados de um lugar que eu sequer sei, porque nunca paro muito para pensar quando me sento para preencher o papel.

O que você quer dizer sobre criar antes de viver é que você imagina a história que quer viver ou que história daria, é isso? Tente me explicar melhor, por favor.

Com carinho,
Thaís