segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Como é engraçado o som do silêncio
A máquina sendo tocada lentamente
Os quatro livros que nunca serão publicados
Os grilos que suspenderam as cantorias
As malas não feitas para ela partir

Como é engraçado o avental manchado de amora
O copo azul se quebrando no chão do quarto
O mural com a mesma frase em alemão
A gaveta da cômoda cheia de remédios vencidos
O despertador dourado sem corda

Mas não há risada que ecoa na casa vazia
Nem tristezas inventadas pela noite
Nem graça naquilo que não deveria ser escrito
Nem remorso pelas palavras nunca enviadas
Nem beleza nas cartas que retornaram

Mas não há rima que sintetize os dias azuis
Nem versos que contam sobre flores vermelhas
Nem jornal embrulhado que fala de paz
Nem orquestras que reproduzem a mudez do outono
Nem uma rua sem fim mais cansada que o final