domingo, 28 de agosto de 2011



“Não tenho muita consideração pela coerência.” Thompson

Um gole de whisky. Tudo bem, ela disse, noites de sexta terminam bem. Não é sempre, claro. Geralmente, quando não espera nada. Mas nos últimos meses tem sido difícil mandar as expectativas embora, cruzar os braços com serenidade no final da semana turbulenta de trabalho, minimizar os sentimentos que se transformam em insônia. O álcool queima a garganta, aquece o estômago, mas não afasta os pensamentos. Pelo contrário, faz tudo ficar em carne viva, ardendo, não podendo sair do lugar.
Não queria voltar para as quatro paredes que guardavam um silêncio cortante. Não queria voltar para 48 horas de um final de semana torturante, sôfrego, cheio de agulhas que não bordam sonhos na cabeceira da cama. Pegou uma muda de roupa, escova de dente, não guardou as roupas jogadas no chão, da semana inteira, e saiu para a noite que abrigava a neblina e algumas luzes fracas. Tem sido assim: deletar dois dias, tentar afogar a incompreensão em 24 latas de cerveja, guardar as palavras na agenda amarela, suspirar com calma e acalmar a agitação que mora no peito.

Fugir. Verbo transitivo direto. Desejo. Necessidade. Quase realidade.

Domingos chuvosos de agosto é o que a acalma. Não há ninguém nas ruas, apenas uns carros que passam sem pressa, de vez em quando, e os bancos molhados da praça. É quando retorna para casa. Espera o ônibus e sente algumas gotas grossas caírem no seu cabelo sujo. Pensa que precisa tomar banho, ler, terminar de assistir o filme e dar banho no gato. Olha para o céu, suspira, e diz que o final de semana já se foi, que não vai ter tempo de fazer tudo, que não quer fazer tudo. Entra no ônibus e a chuva começa a cair com força. Não há trovões.
Exatamente uma semana sem ficar em casa mais do que o suficiente para dormir. Por alguns minutos, enquanto ônibus desliza no asfalto, tudo fica bem e ela só escuta a música que toca no mp3 e olha para as ruas cinzas da cidade que tenta ser colorida. Tudo se perde. Ela se perde. Sabe que a cidade não vai durar muito dentro de si. Lembra que tem seis horas até o final do domingo. Aí começa tudo de novo, a mesma mecanização, o mesmo tempo atrás do computador, a apatia sendo quebrada pelo sol, a irritação sumindo com a chuva.