sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Quinta, 30 de dezembro
O céu estava azul, tão azul que as nuvens nem existiam e o sol queimava na minha pele. Bebíamos cerveja, eu e o meu amor, e o silêncio falava por nós. De repente uma casinha improvisada, areia dentro dela e o mar a uns metros gritando com as pessoas. Era paz. De noite foi inferno, sim. Mas durou pouco. A madrugada nos embalou pra dormir.

Sexta, 31 de dezembro
Telefone tocou de manhã. A ressaca não conseguia se fingir de amiga. O casal chegou, perto do meio dia, bebemos cerveja e almoçamos em um restaurante caro, na beira do lago, aquele que passaríamos a tarde do outro dia bebendo mais e mais cerveja e usando o banheiro.
Quando fecho os olhos, à noite, ainda lembro da imagem deles dois, a primeira vez em que os vi. No primeiro momento me senti estranha, como se a inteligência deles fosse daquela arrogante e pudesse me minimizar. Não posso dizer que não era assim, mas alguma coisa nos ligava, eu e o meu amor, à eles. Talvez fosse justamente esse sentimento que pouca gente conhece.
Falamos de literatura. Discutimos literatura, na frente da barraca, das 14h às 16h, enquanto o sol queimava a grama ao redor da gente e a cerveja quase quente descia resfriando um pouco por onde passava. Eu não diria que eles combinam, não são aquele casal que quando você olha pela primeira vez diz que eles foram feitos um para o outro. Não. Mas eu nunca liguei muito para a aparência, as linhas que se misturam dentro do ser humano valem mais. São mais, de fato.
Ela caminhava com os pés tortos, o cabelo cacheado e curto, os olhos grandes e redondos, o sorriso que quase nunca saía de seu rosto. Ele tinha o passo mais largo e mais leve, o cabelo loiro curto e os óculos provavelmente caros, assim como a calça.
O problema é que quando você nasce em uma cidade pequena e vive nela por anos, sem sair do lugar, acaba dividindo os humanos em duas classes: os normais babacas e os outros. Eu sempre fui a outra. Eles faziam parte da minha classe e eu, acostumada ao primeiro grupo de pessoas, tentava digerir o alimento perfeito para o meu corpo. Foi assim aquela sexta. E, no final da noite, eles já faziam parte de mim e pareciam velhos conhecidos.

Sábado, 01 de janeiro
Juro que nunca bebi tanta cerveja na minha vida quanto naquele dia. E as histórias contadas, à noite, em cima de um colchão de ar, no meio das barracas, no acampamento, a chuva caindo de fininho e a caixa de isopor ainda cheia de bebida. Chorei. Às vezes a sensibilidade é absurda dentro de mim e as falhas na vivência aparecem só para me lembrar da existência delas. Mas eu estava longe de casa com o meu amor e um casal que podia vir a ser importante. Foi.


Um mês depois me falam que eles se separaram. E a esperança que vivia dentro de mim, de que o amor podia existir em outras pessoas, além de nós, morreu. Agora eu não sei em que parte a gente começa a acreditar em alguma coisa quando todas as expectativas foram embora e nada mais bate na porta.